Rodinei Crescêncio/Rdnews
A partir de 1980 Mato Grosso protagonizou o maior fenômeno econômico regional do Brasil e um dos maiores do mundo.
No período de 45 anos, após a divisão territorial, realizada entre 1977-1979, o estado produziu um verdadeiro “Milagre Econômico Pantaneiro”, com crescimento econômico de ritmo chinês, muito acima do desempenho do PIB nacional, deixando a posição de economia periférica para ocupar a liderança nacional em produção agropecuária e se tornou a 12ª. economia estadual, com participação de 2,2% do PIB do país.
Nos anos de 1975-1985, pesquisadores a unidade de pesquisas de soja da estatal EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), sediado em Londrina (PR), desenvolveram uma variedade de soja possível de ser cultivada em grande escala e com boa produtividade no cerrado, desde que tais terras tivessem sua elevada acidez corrigida com calcáreo e fossem devidamente adubadas com fertilizantes fosfatados e nitrogenados. Esse avanço científico, somado aos estímulos creditícios e benefícios tributários do governo federal da época proporcionaram intensa ocupação de grandes extensões de terras de Mato Grosso para a produção em escala empresarial de gado, arroz, milho, soja e, mais tarde, sorgo, girassol, algodão e gergelim.
“Com essa exponencial expansão de característica industrial, a agropecuária se transformou na principal locomotiva da economia de Mato Grosso desde 1980 até os dias atuais.”
Com essa exponencial expansão de característica industrial, a agropecuária se transformou na principal locomotiva da economia de Mato Grosso desde 1980 até os dias atuais.
Além dos avanços tecnológicos promovidos pela iniciativa privada em parceria com instituições públicas e universidades, duas mudanças institucionais foram de fundamentais para o aumento da produção agrícola e crescimento econômico em Mato Grosso. A Lei Kandir, de 1996, durante o governo Fernando Henrique Cardoso e a Lei de Proteção de Cultivares, de 1997, que promoveram forte impacto na economia mato-grossense.
Essas mudanças criaram um ambiente de negócios mais propício ao investimento na produção primária ao proporcionar maiores garantias dos direitos de propriedade sobre as sementes e a isenção tributária nas exportações, tornando os produtos agropecuários do estado mais competitivos no mercado global. Assim, com a expansão da demanda nacional e internacional, investimento crescente em pesquisa e inovação tecnológica, cresce a produtividade e a produção agrícola de Mato Grosso, que apresenta taxas de crescimento econômico acima das médias nacionais, transformando-se em uma grande plataforma agroexportadora e um importante polo econômico do Brasil.
Quarenta e cinco anos depois, na safra 2025, a produção total de grãos de Mato Grosso alcançou quase 110 milhões de toneladas. A soja, principal commodity agrícola do estado e do país, alcançou a produção de 51 milhões de toneladas, respondendo por 28% da produção nacional da leguminosa. A produção de milho alcançou 55 milhões de toneladas.
Como se não bastasse a revolução agropecuária, atualmente Mato Grosso lidera uma nova revolução produtiva: a “Revolução Industrial Verde”, baseada na bioenergia do biodiesel e etanol de milho. Uma revolução industrial dentro da revolução agropecuária.
Entre 2015 e 2025, a produção de etanol de milho no estado saltou para 5,6 bilhões de litros, levando Mato Grosso à liderança nacional em produção de etanol de milho, respondendo por 68% da produção nacional. O modelo de negócios do etanol de milho em Mato Grosso se sustenta em um tripé bastante competitivo: i) grande oferta de milho a preços baixos; ii) moderna tecnologia de processamento, de origem americana) crescente demanda nacional e internacional que busca alternativas sustentáveis para substituir gradativamente combustíveis derivados do petróleo.
Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico de Mato Grosso (agosto, 2025), existem atualmente 17 (dezessete) plantas industriais de etanol de milho em operação e 07 (sete) em fase de construção, que vão entrar em operação em 2026 e 2027.
Na quinta-feira passada (28), duas das maiores empresas mato-grossenses, a Inpasa, maior indústria de etanol de milho do estado e a Amaggi (originadora e exportadora de milho) anunciaram a formação de uma join-venture para a construção de três biorrefinarias de etanol de milho até 2029, cada uma com capacidade de processar dois milhões de toneladas de milho por ano, com investimento estimado em R$ 7,5 bilhões.
O acelerado crescimento das indústrias de biodiesel e etanol de milho confirmam a tese que a nova onda de crescimento econômico de Mato Grosso será protagonizada pela agroindustrialização.
Vivaldo Lopes é economista e escreve neste espaço às segundas-feiras.
FONTE: RDNEWS