sexta-feira, outubro 3, 2025

MidiaNews | Escute se for capaz

Nunca fomos tão livres para falar — e nunca estivemos tão presos ao ruído. O acesso à informação nunca foi tão amplo, mas o excesso de notícias, opiniões e dados nem sempre fortalece. Muitas vezes, ele confunde, anestesia e enfraquece o espaço público.

 

Foi dessa inquietação que nasceu Escute se for capaz, livro que agora chega à pré-venda. A obra é fruto da minha travessia entre a música e a pesquisa em política social, e procura mostrar que a comunicação não é apenas troca de mensagens, mas um campo de disputa. E que a escuta pode ser um gesto político de resistência.

 

Durante a pandemia, ouvimos falar do termo “infodemia” para definir o excesso de informações. No livro, defendo que a infodemia não é acidente, mas estratégia: o que chamo de controle por dispersão. Em vez de calar as pessoas, ela multiplica vozes até que nenhuma se sustente. O resultado é a sensação de caos, em que falar muito não significa ser ouvido.

 

Esse fenômeno está diretamente ligado a outra questão decisiva: a proteção de dados. Cada clique, curtida ou silêncio diante da tela se transforma em dado. As grandes plataformas não apenas mostram conteúdos, mas moldam comportamentos e desejos.

 

O que parece simples passatempo é, na verdade, matéria-prima para um sistema que lucra com a nossa atenção. Entender essa lógica é fundamental para proteger a dignidade informacional de cada cidadão.

 

Outro ponto central é a liberdade de expressão. Hoje, todos podem postar e falar nas redes, mas isso não garante que serão ouvidos. Os algoritmos decidem o que ganha visibilidade e o que se perde no barulho.

 

A verdadeira liberdade de expressão não é apenas formal, mas também vivida: é ter o direito de existir no espaço público digital em condições justas, sem que a lógica do lucro determine quais vozes merecem atenção.

 

Diante desse cenário, proponho a ideia de soberania comunicacional: o direito coletivo de produzir sentidos, de escutar e de ser escutado, sem submissão a algoritmos que filtram nossa experiência. Parte dessa soberania passa, sim, pela regulação democrática das plataformas digitais — é preciso que elas prestem contas, respeitem direitos e atuem com responsabilidade. Mas a soberania não se resume à lei: ela exige também recuperar o silêncio, o vínculo e a imaginação política que o excesso informacional tenta roubar. Escutar é resistir.

 

Na contracapa do livro, uma frase resume esse desafio: “Você não está apenas navegando — está sendo navegado.” Reconhecer isso é o primeiro passo para abrir brechas, reencantar a linguagem e reinventar o comum.

 

Escute se for capaz não é manual nem manifesto. É um convite à reflexão e à resistência sensível. Em tempos de saturação informacional, quando tudo se converte em performance e pouco em vínculo, reaprender a escutar é também um ato político.

 

O livro já está em pré-venda e cada leitura é um gesto coletivo de resistência: escutar é, hoje, uma forma de lutar.

 

Fabricio Carvalho é maestro e membro da Academia Mato-Grossense de Letras.

FONTE: MIDIA NEWS

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