O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou neste sábado que a pasta está ampliando o estoque de antídotos para o tratamento imediato de casos de intoxicação por metanol. Ainda assim, ele pediu que os brasileiros evitem consumir bebidas alcoólicas, especialmente as destiladas.
— Quero dar uma recomendação para a população como um todo, e dou como ministro da Saúde e como médico: nesse momento, evite ingerir bebidas destiladas, sobretudo aquelas em que a garrafa é feita com a rosca. Até agora, o que foi identificado é a presença desse crime em garrafas de bebidas destiladas feitas com a rosca. Estamos falando de um produto que é de lazer, não é um produto da cesta básica alimentar — afirmou
O ministro também alertou os comerciantes para que redobrem a atenção com a compra de bebidas de fornecedores, garantindo certificação de origem, mas ressalvou que não há motivo para pânico.
Segundo a pasta, até o momento, em 12 estados do país, são 116 intoxicações suspeitas e 11 confirmadas, totalizando 127 casos. Ao menos cinco pessoas morreram em decorrência de complicações.
Tratamentos
Os tratamentos são realizados principalmente por meio da administração do etanol farmacêutico, com maior disponibilidade no país, e pelo fomepizol, que está sendo importado do exterior pelo governo federal.
— Nós já tínhamos adquirido 4,3 mil ampolas do etanol farmacêutico para ter um estoque estratégico para os hospitais universitários federais espalhados pelo Brasil, que podem fornecer na medida que qualquer serviço do SUS solicite. Nós adquirimos mais 12 mil ampolas no laboratório nacional, chega na próxima semana reforçando esse estoque estratégico — anunciou Padilha em entrevista em Teresina, onde cumpre agenda.
O ministro também informou que a pasta fechou a compra de 2,5 mil ampolas de fomepizol de um fornecedor do Japão, em uma articulação com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas). Os kits devem chegar na próxima semana e serão distribuídos aos Centros de Informação e Assistência Toxicológica dos estados.
— Teremos aqui no Brasil, além do etanol farmacêutico já garantindo tratamento, teremos também o fomepizol.
Como agem os antídotos
Mas afinal, como é o tratamento da intoxicação por metanol? Apenas 10 ml já são suficientes para causar cegueira, e 30 ml é considerada a dose mínima fatal para um adulto. Porém, quando o serviço de saúde é buscado de forma rápida, é possível reverter a intoxicação.
O primeiro passo é frear a metabolização do metanol. Isso porque, no fígado, esse álcool usado na indústria é quebrado em formaldeído e, em seguida, em ácido fórmico, que é o componente altamente tóxico.
O antídoto de referência para isso no mundo é o fomepizol, explica Raphael Garcia, professor no setor de Bioquímica, Farmacologia e Toxicologia da Universidade Federal de São paulo (Unifesp):
— Ele atua bloqueando diretamente a ação da enzima que quebra o metanol, evitando a formação de formaldeído e ácido fórmico, os verdadeiros responsáveis pelos danos à visão e ao sistema nervoso. Mas, no Brasil, o acesso ao fomepizol ainda é limitado. Embora seja o tratamento de escolha em muitos países, ele não está amplamente disponível por aqui.
Isso acontece porque o fomepizol não tem registro no Brasil. Mas, diante do cenário de emergência, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acionou autoridades internacionais para acelerar a disponibilização do medicamento no país.
“A Agência já consultou formalmente autoridades reguladoras internacionais sobre a autorização de comercialização do produto em seus respectivos países (…) O objetivo é acelerar a aquisição do produto e garantir o atendimento aos pacientes no menor tempo possível”, disse a autarquia em nota nesta semana. Além disso, o órgão publicou um Edital de Chamamento para identificar fabricantes e distribuidores internacionais com disponibilidade imediata de fornecimento ao SUS.
De forma complementar, Padilha, disse em coletiva na última quinta-feira que foi feito um pedido à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para a doação imediata de 100 tratamentos de fomepizol, e manifestada a intenção de adquirir outras mil unidades por meio da linha de crédito do Fundo Estratégico da OPAS, ampliando o estoque nacional.
— Os pedidos e compras de antídotos que estamos fazendo são por precaução. Nos últimos anos, não ultrapassamos 20 casos por ano, mas temos observado um registro maior no estado de São Paulo. Essas são medidas preventivas do Ministério da Saúde — reforçou na ocasião.
Enquanto isso, uma alternativa de antídoto, curiosamente, é o próprio etanol, explica Diego Rissi, perito legista e toxicologista na Secretaria de Estado de Polícia Civil do Rio de Janeiro e doutorando em Saúde Pública na Fiocruz:
— É curioso, mas o etanol pode ser administrado intravenoso como antídoto pois compete com a mesma enzima que metaboliza o metanol, porém com uma afinidade cerca de 50 vezes maior, reduzindo assim a formação dos metabólitos tóxicos pelo metanol. Mas é importante ressaltar que, em casos de suspeita de intoxicação por metanol, a pessoa deve procurar imediatamente atendimento médico e relatar a suspeita para a equipe.
O etanol farmacêutico tem o uso restrito aos 32 Centros de Informação e Assistência Toxicológica (CIATox) do Brasil, que oferecem suporte para diagnóstico, manejo de intoxicações, toxicovigilância e gestão de risco químico pelo SUS. Em São Paulo, há 9 centros disponíveis.
FONTE: Folha Max