Deputada estadual em seu terceiro mandato, Janaina Riva decidiu abandonar a zona de conforto, não sair à reeleição, e disputar uma das eleições consideradas mais difíceis na política: o Senado Federal.
Ela enfrentará fortes adversários, em um cenário político que a coloca como uma das favoritas nas pesquisas – por isso, talvez, um alvo a ser atacado pelos adversários. Ao MidiaNews, Janaina disse não se intimidar.
Depois de tudo que já vivi, eu já não tenho mais temor de nada. Já aconteceu tanta coisa comigo
“Depois de tudo que já vivi, eu já não tenho mais temor de nada. Já aconteceu tanta coisa comigo, já usaram de tantas artimanhas, não tenho mais medo de disputar uma eleição. Agora, com relação ao que vem de lá pra cá, do jeito que vier, vai voltar”, disse, em entrevista exclusiva.
Além de política eleitoral, ela falou sobre sua defesa das causas relacionadas às mulheres e crianças, dos desafios enfrentados como mulher na política, e a busca por maior representatividade feminina no Congresso.
Janaina também afirmou ter orgulho do sobrenome Riva, e sua relação com o pai, José Riva, que fora um dos políticos mais influentes de Mato Grosso e foi condenado por crimes ligados à corrupção, foi preso e fez delação premiada.
“O que aconteceu no passado nunca vai ser apagado. O que meu pai viveu, ele viveu. Ele pagou pelo que ele fez. Como pai, eu o amo incondicionalmente. Mas, enquanto políticos, temos visões muito distintas. E não vou esconder meu sobrenome, porque acho ridículo a pessoa que tenta de alguma forma maquiar da onde ela veio”, disse.
Confira os principais trechos da entrevista (e o vídeo com a íntegra ao final da matéria):
MidiaNews – A senhora é pré-candidata ao Senado na eleição do ano que vem. Já está pensando em um marqueteiro, uma equipe de trabalho?
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Janaina Riva: “Depois de tudo que já vivi, eu já não tenho mais temor de nada. Já aconteceu tanta coisa comigo”
Janaina Riva – Começamos a testar uma primeira equipe e a gente vai fazer alguns testes para ver se se encaixa, se é o perfil. Sou muito dinâmica, às vezes, gosto de ir pelo meu feeling, gosto de fazer do meu jeito. Até hoje sobrevivi praticamente sozinha na comunicação, reconhecendo o trabalho da minha equipe, claro.
Digo para minha equipe: “quero falar sobre isso, quero gravar sobre isso”. Quando aconteceu, por exemplo, com o delegado de São Paulo que foi assassinado pelo PCC, falei na hora para minha equipe:
Vamos pensar um projeto que dê proteção a esses servidores da segurança que lidam diariamente com as facções, de como protegê-los depois da aposentadoria ou protegê-los no dia a dia enquanto estão na ativa.
Sou muito sensível às pautas, gosto disso, de acompanhar. Pautas de mulheres também, o atendimento multidisciplinar, que é um projeto nosso. É inadmissível na Capital, a gente não ter um centro de atendimento multidisciplinar, onde a mulher entra e passa pelos diversos setores de proteção e de respaldo também de segurança alimentar e habitacional num único ambiente.
MidiaNews – E já tem uma estimativa de quando vai investir na campanha?
Janaina Riva – Não, não tenho ideia ainda de quanto vai ser gasto. Agora que a gente começa a fazer uma pré-organização para poder ir fazendo cotações, orçamentos… Ainda não tenho isso muito bem definido.
Agora, muitas pessoas acreditam no meu projeto, no trabalho que estou fazendo. Obviamente que dinheiro é importante, mas também não é tudo numa eleição. Tem muita gente apostando nisso, que dinheiro é tudo, que vai comprar todo mundo, que o dinheiro ganha qualquer eleição. Eu já não acredito nisso. O conceito em uma eleição é muito importante também, mais, inclusive, do que a questão financeira.
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Janaina diz que é candidatíssima ao Senado, mas pondera sobre Governo: “É preciso se analisar o termômetro no período eleitoral”
MidiaNews – A senhora falou em dinheiro e recentemente deu uma entrevista falando que ficou sabendo que algumas pessoas do agronegócio estavam apostando sobre uma possível desistência sua na disputa ao Senado. Há uma pressão para que desista?
Janaina Riva – É a ideia do W.O. Todo mundo tem isso. Quando a pessoa tem muito poder, quer exterminar todos os adversários. Isso não é uma coisa nova na política. Infelizmente, isso é prática reincidente na política, de tentar forçar candidaturas únicas ou de eliminar adversários. Por isso que fiz tanta questão de ser presidente do MDB.
Porque queria poder ter as rédeas da condução do meu próprio projeto. Pensava: Meu Deus, com tanto dinheiro que essa turma está falando que tem, será que daqui a pouco tenho segurança de estar em um partido e ter a garantia de ser candidata?
E já é de conhecimento público, que não sou uma pessoa de me curvar a esse tipo de coisa. Entendo que isso acontece na política, mas acho lamentável. Querer ganhar eleição no tapetão, querer tirar candidatura, querer ficar pressionando as pessoas para não apoiar. Não acho isso nem um pouco democrático.
MidiaNews – Mas, há a possibilidade de a senhora desistir do Senado e ir ao Governo?
Janaina Riva – Hoje, sou candidata ao Senado. Obviamente, é preciso se analisar o termômetro no período eleitoral. Dentro do partido, nunca conversamos internamente sobre a possibilidade de uma candidatura ao Governo. Mas não quer dizer que isso não possa ser tratado. Isso pode ser tratado, mas hoje a prioridade é uma candidatura ao Senado.
MidiaNews – Em diversas entrevistas a senhora já disse da vontade em ser governadora. Se ganhar a eleição no ano que vem, isso lhe traria musculatura para o futuro. Pensa em disputar o Governo em 2034?
Não acho que já tenha eleição ganha para ninguém e me enquadro nessa mesma condição.
Janaina Riva – Vai depender muito do momento, sou mais pé no chão [do que quando entrou na política]. Obviamente que continuo entusiasmada com o futuro do Estado, mas primeiro preciso ganhar a minha eleição do Senado. Não acho que já tenha eleição ganha para ninguém e me enquadro nessa mesma condição.
Eu sei que tem gente já traçando rumo de ser candidato a governador em 2030, tem gente já pensando em 2034. Eu nem sei se eu vou estar viva até lá, meu objetivo é fazer um grande trabalho, independente de ser candidata ou não. Mas primeiro preciso trabalhar bastante e suar bastante para ganhar essa eleição. Vai ser uma eleição muito desafiadora. Eu reconheço que temos fortes candidatos em todos os aspectos, para Governo e para o Senado.
MidiaNews – Mas tem a avaliação de que a eleição ao Senado seja mais difícil que até uma eleição ao Governo no ano que vem?
Janaina Riva – São muitos candidatos competitivos e pode ser, sim, que seja uma eleição ainda mais difícil, pode ser que isso aconteça. Mas, com certeza, vai ser muito emocionante. É que chega um ponto em que as pessoas que se acomodam onde estão e eu não quero passar por isso na Assembleia.
Às vezes, fico até triste em pensar em sair da Assembleia, porque é uma vida. São 12 anos como deputada estadual, de muitos momentos emocionantes, muitas adversidades…
Quero continuar com gás e força total. Penso que chegou o momento de encerrar um ciclo. E mesmo que seja desafiador, sempre digo isso: não quero ser uma política conformada, recebendo salário o resto da vida. Eu quero poder fazer a diferença mesmo, contribuir onde eu passar. Quero tentar buscar um caminho diferente do que estou agora.
Às vezes, fico até triste em pensar em sair da Assembleia, porque é uma vida. São 12 anos como deputada estadual, de muitos momentos emocionantes, muitas adversidades… Mas chegou o meu momento e todo mundo entende isso. Chegou o momento de virar essa página, que foi uma página bonita da minha vida, que tenho muito orgulho de ter vivido, de ter enfrentado tudo que passei.
No começo, a misoginia, a violência política de gênero, quando nem existia violência política de gênero, passei por deepfake, na época nem tinha esse nome, deepfake, uso de inteligência artificial, manipulação, passei por tudo… E sobrevivi.
Agora, o que desejo é que venha mais mulheres, fico muito na torcida, para que tenham mais mulheres de representatividade lá dentro. Fico preocupada de pensar que podemos não ter nenhuma, mas que bom que temos várias mulheres se dispondo a disputar, que chances também de ganhar a eleição.
MidiaNews – A senhora citou que tem muita gente pensando já em 2030. Quem?
Janaina Riva – Ah, muita gente. É só olhar as articulações políticas e vê que já tem gente preocupada com 2030. Eu não tenho essa preocupação. Primeiro é uma eleição por vez, cada uma com o seu momento.
É um termômetro muito diferente uma eleição da outra, que precisa ser medido a cada eleição, cada uma delas tem características peculiares. Primeiro tem que ganhar essa, depois pensar um futuro.
Eu preciso ganhar a eleição e se conseguir ganhar, que entendendo que é desafiador, o objetivo é trabalhar bastante durante os oito anos de Senado.
MidiaNews – E se perder? Eu sei que é difícil pensar nisso, mas é uma disputa.
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A deputada Janaina Riva sobre futuro político: “Primeiro tem que ganhar essa, depois pensar um futuro”
Janaina Riva – [Risos] Eu não conto com essa possibilidade. Na política você não pode ter esse pensamento de perder uma eleição. Porque aí você já está derrotado. Tem que entrar assim: “Vou dar o meu tudo para ser eleita e acreditando nessa eleição”. E hoje acredito na minha eleição, não só por conta das pesquisas, mas pelo que sinto nas ruas mesmo. Muito carinho, muita atenção espontânea, as pessoas vêm até mim, querem me abraçar, me cumprimentar.
Hoje já fiquei tão feliz. Eu fui almoçar, uma garçonete que sempre me atende me disse: “Vou transferir meu título só pra votar em você”. Eu achei isso tão especial. Porque nunca tinha visto isso, nunca tinha sentido isso. Hoje, sinto um apoio das pessoas, também pelas situações que passei e tudo mais, vejo as pessoas querendo me dar suporte, me dar apoio.
E é engraçado, acho que até por ser mulher as pessoas pensam assim, ela precisa do nosso apoio, da nossa força. Tem aquele cuidado dos eleitores. Espero que continue assim e que eu ganhe as eleições.
MidiaNews – A deputada Janaina é uma mulher jovem e bonita. Esses fatores têm qual impacto no seu trabalho do dia a dia? A beleza ajuda a aproximar dos eleitores?
Janaina Riva – Bonita do seu ponto de vista, né? Não sei se é de todos [risos]. Mas brincadeiras à parte, entendo que tenho que cuidar de mim para cuidar dos outros. Eu levo a minha vida bem disciplinada com relação a isso, porque quero poder mostrar para as pessoas que tenho preocupação não só comigo, mas com a saúde de todas as mulheres.
Quando cuido de mim, é para mostrar que também gostaria que as mulheres tivessem esse respaldo de saúde pública que tenho.
Quando cuido de mim, é para mostrar que também gostaria que as mulheres tivessem esse respaldo de saúde pública que tenho. Eu gostaria que as mulheres pudessem fazer uma mamografia, que elas pudessem fazer um papanicolau, que elas pudessem fazer controle hormonal. Eu hoje já faço controle hormonal com 36 anos.
É interessante, porque você estar bem também é uma forma de demonstrar essa preocupação como um cuidado. Não uma vaidade, mas uma preocupação com a saúde mesmo. E eu levo isso muito a sério essa questão da saúde.
Agora, se isso vai reverberar eleitoralmente, não sei, acho que eleitor vota mesmo na coerência do trabalho, da dedicação. Essa pergunta é interessante, porque não parei ainda para pensar se isso traz votos.
Eu sei que a juventude, sim, porque vejo nas pesquisas que eu tenho intenção de apoio de um público muito jovem.
MidiaNews – Mas, semioticamente, é percebido uma mudança no estilo da roupa. É proposital ou foi a maturidade?
Janaina Riva – É o amadurecimento. Hoje, não me sinto mais à vontade para usar as mesmas roupas que usava antes. Não há nenhum preconceito meu, mas me sinto bem. Não quero que as pessoas olhem pra mim e vejam um corpo, eu quero que elas vejam a minha capacidade, minha articulação. Eu notei que, às vezes, a vestimenta também pode desviar um pouco o foco do que estou fazendo. Esse visual novo assim é algo que pensei mesmo para demonstrar às pessoas que nesse momento não é o meu corpo que quero explorar. E também não julgo aqui as mulheres que sentem essa liberdade de poderem se vestir de uma forma diferente às vezes até mais sensual, que eu gosto.
Eu prefiro ficar um pouco mais comportada. E isso me dá mais segurança também, até na mobilidade, de não ter que ficar preocupada. Foi uma opção que eu fiz, de dar uma mudada nesse visual, e que veio também com o amadurecimento.
MidiaNews – O seu pai, ex-deputado José Riva, é considerado um estrategista, independente dos casos de corrupção e de ter até feito delação premiada. Até que ponto ele participa das suas decisões e da articulação de bastidores?
Janaina Riva – Meu pai é meu entusiasta. Mas ele não acompanha o dia a dia, porque também tem seus afazeres. E o dia a dia é muito espontâneo. Não tem como combinar o que você vai falar, o que vai fazer, porque as perguntas surgem. E ele sempre me deu essa liberdade para construir a minha carreira. Ele me respeita muito.
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Janaina Riva revelou que ela e o pai, José Riva, “tem uma opinião divergente” recorrente na política
Às vezes, fica chateado, porque tem uma opinião divergente com relação a algum tema. Mas entendo que a preocupação maior hoje é como pai, não como político. O que é natural, também tenho com os meus filhos, já me preocupo com a segurança, com o desgaste emocional, com as brigas, com tudo mais. Eu vejo que ele olha com esses olhos também, muito afetuoso, muito carinhoso.
Mas ele também entende que cheguei até aqui com meu feeling, que é um feeling mais jovem, e de uma mulher, que tem uma visão diferente. Por mais que as pessoas achem que não exista diferença com relação ao olhar feminino e ao olhar masculino, existe muita diferença. Na verdade, é um ar de diferença entre uma visão e outra.
Como mulher, me sinto mais calma, mais do diálogo, mais da conversa e não tanto de imposição. Nós temos um pouco de perfil diferente. Mas ele tem o maior amor, carinho, cuidado e tudo comigo.
Às vezes, como disse aqui, ele pensa diferente, mas respeita o meu jeito de pensar e agir.
MidiaNews – Quais temas que ele fica chateado?
Sou mais razão e o meu pai mais emoção
Janaina Riva – Às vezes, acha que eu poderia agir diferente, poderia ser mais agressiva em determinada pauta. Mas gosto de ir no meu feeling. Acho que agora, com meu projeto à majoritária, quanto mais eu agregar, melhor. Sou mais razão e o meu pai mais emoção. Mas meu pai e minha mãe sofrem bastante. Eles me ligam, às vezes, só para ouvir minha voz e saber se estou bem.
Mas hoje ele está bem distante dessa questão política. E também respeito, porque acho que está certo e tem que seguir também com a vida dele na iniciativa privada, está bem empolgado com isso.
MidiaNews – O sobrenome Riva pesa de maneira positiva ou negativa?
Janaina Riva – O que aconteceu no passado nunca vai ser apagado. O que meu pai viveu, ele viveu. Em um momento político diferente, com alianças políticas de pessoas que até hoje estão circulando politicamente e nunca pagaram pelo que fizeram. Ele pagou pelo que ele fez.
Como pai, eu o amo, incondicionalmente. Mas, enquanto políticos, temos visões muito distintas. Então, para o nosso relacionamento ser cada dia mais maravilhoso, esse respeito que ele tem por mim é imprescindível.
E não vou esconder meu sobrenome, porque acho ridículo a pessoa que tenta de alguma forma maquiar da onde ela veio. Eu tenho maior orgulho de ter nascido da minha mãe Janete, do meu pai José Riva, como filha os amo incondicionalmente.
Eu sou uma filha muito presente. Somos uma família muito unida. Nunca vou trair esses laços que me fizeram chegar até aqui. Por mais que, como vocês disseram aqui, existia um cenário político que foi muito ruim para o Mato Grosso no passado, e isso entendo, esse problema não é um problema meu e eu não posso absorver isso.
Quantas pessoas hoje têm problemas dentro das suas famílias e não são niveladas pelos seus pais. Eu vejo que quando as pessoas querem nivelar ou querem dizer “tal filho, tal pai”, são pessoas que querem usar isso politicamente.
Porque eu não sou disso. Eu não sei quem que é o pai, mãe dos meus adversários, não conheço, não sei o histórico, não sei nada. E acho esse jogo muito sujo de querer envolver família em discussões políticas. Porque meu pai fez a história dele, eu estou construindo a minha, muito jovem, mas com muita determinação, muita força.
MidiaNews – A senhora teme uma campanha pesada, com ataques pessoais?
Janaina Riva – Eu não temo mais nada. Vamos ser honestos. Depois de tudo que já vivi, eu já não tenho mais temor de nada, porque já aconteceu tanta coisa comigo, já usaram de tantas artimanhas comigo, não tenho mais medo de disputar uma eleição.
Você tem que ir para uma eleição com essa consciência tranquila. Você está fazendo sua parte? Estou fazendo! É isso que é o importante. Não posso ficar preocupada com o que os outros vão fazer e com quem vão ser meus adversários.
Você tem que ir para uma eleição com essa consciência tranquila. Você está fazendo sua parte? Estou fazendo! É isso que é o importante
Eu não estou preocupada com quem vai disputar comigo, estou preocupada com o meu desempenho. De dar o meu melhor, de me dedicar até o final e de conciliar isso tudo com a minha vida privada.
Por que, tem momentos que eu sinto uma falta dos meus filhos do meu marido, que é algo assim, inexplicável. Aí eu falo: “Falta só um ano, e já vai passar”. Porque é desafiador. Agora, o único medo que eu tenho é esse, é de ficar muito ausente dos meus filhos, do meu marido.
Agora, com relação ao que vem de lá pra cá, do jeito que vai voltar.
MidiaNews – Essa semana, veio à tona a manifestação do ex-presidente Bolsonaro em apoiar o grupo do governador Mauro Mendes na eleição do ano que vem, podendo minar as pretensões do senador Wellington Fagundes ao Governo. A senhora conversou com Wellington sobre isso? Qual foi a reação dele?
Janaina Riva – Pode parecer estranho, mas não tive a oportunidade de conversar com ele sobre esse assunto. Inclusive, antes de vir para cá, perguntei ao meu marido [Diogenes Fagundes, filho de Wellington], se ele sabia alguma coisa e ele não tinha nenhuma informação.
O que sabemos é o mesmo que a imprensa está dando. São muitos anos de PL. Obviamente, existe um sentimento com relação a isso e ficou muito nítido na coletiva de imprensa que ele estava em uma situação de muita vulnerabilidade. Isso me preocupou.
Agora, politicamente, é um partido totalmente independente, autônomo e não é o meu partido. Eu já fiz um compromisso comigo mesmo, não vou ficar dando pitaco, nem palpite, no partido dos outros. Até porque tenho um grande dever de casa para fazer aqui.
Eu sei da trajetória do Wellington, ele é de muita força e sempre fala: “Não sou de briga, sou de luta”, e não sei, mas eu tenho impressão que ele não vai deixar isso muito fácil.
MidiaNews – Ocorre que essa informação muda o cenário, muda o jogo, ou acha que ainda é prematuro ter essa análise?
Janaina Riva – É prematuro, porque não sei se isso vai ser efetivado ou não. Não tenho convicção disso. Assim como em outros partidos, tenho dúvida com relação às pessoas que seguirão no comando dos partidos. Eu acho que o cenário ainda é um pouco indefinido.
MidiaNews – Como vê esse cenário do senador Wellington eventualmente fora do jogo?
Janaina Riva – Wellington, hoje, é o primeiro colocado nas pesquisas. Obviamente, muda muito o cenário político em Mato Grosso. Se tirar o principal candidato, inevitavelmente. vai gerar especulação, muita discussão.
Eu não sei qual o reflexo eleitoral disso, porque é difícil pensar com a cabeça de todos os mato-grossenses. Mas, politicamente, quanto menos opção tiver, acho que é pior. Eu gostaria de ter mais opções nessa disputa ao Governo. Não só o Wellington, mas também outros nomes.
MidiaNews – Mas essa eventual saída dele do cenário te distancia do PL?
Dentro do MDB, sempre tivemos um bom relacionamento com todos. Nunca tive dificuldade com nenhum partido
Janaina Riva – Eu não tive nenhuma aproximação com o PL. Chegaram até a vincular algumas matérias de que eu tinha estado com o Valdemar da Costa Neto [presidente nacional do partido]. Isso é mentira, nunca estive com ele. Aliás, estive com ele há uns oito, nove anos, quando conheci o Diógenes, mas numa conversa informal. Eu nunca conversei com ele sobre nenhuma aliança política.
Dentro do MDB, sempre tivemos um bom relacionamento com todos. Nunca tive dificuldade com nenhum partido. Tenho apoiadores dentro de todos os partidos do Estado. Dentro do PL, dentro do União Brasil, dentro do Republicanos, dentro do PSD, dentro do PSB. Não sei se isso afasta ou não afasta, porque é algo que dentro do MDB já decidimos que essa discussão sobre coligação vai ficar para depois da janela eleitoral.
A gente nunca cogitou isso aqui dentro, porque aqui tem muitas divisões. E vale a pena dizer isso: o MDB não mudou muito. Continua um partido onde cada um tem uma opinião.
MidiaNews – Mas a senhora sendo presidente, tem uma voz que ressoa melhor.
Janaina Riva – Claro, isso é natural. Como presidente, mulher e deputada mais votada, candidata nas próximas eleições a uma majoritária… Então, naturalmente, sei que minha voz tem muito peso. Mas também quero ouvir a base.
Eu não quero iniciar um processo eleitoral com muitos arranhões e machucados. Eu preciso sair com um partido coeso. E esse é o meu principal objetivo. Não adianta pensar só em mim em uma eleição e deixar os outros de lado, porque aí vou com um partido totalmente dividido, que é algo que não quero.
A gente já conversou no MDB, sobre essa possibilidade de candidatura solo, que hoje, por incrível que pareça, é algo que mais agrada a todos os correligionários. Isso não quer dizer que a gente não vá ter coligação, mas estou dizendo que isso é algo hoje que agrada.
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“Eu não quero iniciar um processo eleitoral com muitos arranhões e machucados. Eu preciso sair com um partido coeso”, disse
MidiaNews – A senhora sair em uma candidatura solo ou avulsa não é um grande risco?
Janaina Riva – Essa possibilidade é real, porque sabemos que é uma eleição de dois votos para o Senado. Talvez uma candidatura única em que eu possa transitar melhor e onde tenho mais independência para atuar durante o período eleitoral. Isso pode acontecer e pode não acontecer.
Estou dizendo que, hoje, a maioria dos correligionários é a favor de um MDB com uma candidatura avulsa ao Senado e uma liberação dos membros. Agora, isso pode mudar na coligação, vai depender muito de como vai andar até o ano que vem.
MidiaNews – O ministro Carlos Favaro tem no PSD a médica Natasha Slhessarenko como candidata ao Governo, que e é próxima a senhora, mas que estão alinhados com a esquerda. Uma conversa está descartada?
Janaina Riva – Não é uma conversa descartada, mas é algo que vejo como pouco provável por parte do partido e pelas posições que entre nós, em reuniões internas, resolvemos tomar. Vejo, hoje, uma possível aliança com a Natasha como difícil de acontecer.
Agora, como você disse, a Natasha é uma amiga minha de anos e sem dúvida é uma mulher com toda a capacidade de ser candidata ao que ela deseja ser. Participamos de muitos debates de combate à violência doméstica juntas. Inclusive, já foi minha médica. Tenho maior respeito por ela.
MidiaNews – Essa candidatura avulsa, se vier a se concretizar, não pode enfraquecer as candidaturas das chapas a estadual e federal do MDB?
Janaina Riva – Na verdade, dá mais liberdade. Como tem alguns que têm uma posição, outros que têm outra, isso agrada muito os deputados, porque cada um poderia optar pela majoritária que entender mais interessante.
Os deputados se sentem muito à vontade com isso. E como eu disse: construir um partido é um desafio, porque nem todos querem apoiar o mesmo candidato a governador ou senador. Esse é o desafio, fechar essa conta. São muitos partidos e muitos interesses.
E a depender da composição de alguns partidos, aí é que as pessoas não querem mesmo comunicação. Como a gente não sabe quem vai se alinhar a quem, vamos tocar independente até o ano que vem. E vamos ver quais vão ser as movimentações.
MidiaNews – Alguns têm a leitura de que o Wellington é o favorito, mas tem gente que vê o cenário como incerto. Como que a senhora vê as pesquisas que tem saído e apontado cenários a um ano da eleição? Acha que pode sim ter algum nome ali que vai despontar de fato? Essa eleição pode romper com o histórico de Mato Grosso não ter tido 2º turno em eleições ao governo?
Janaina Riva – Se as três candidaturas permanecerem, não vejo possibilidade de um primeiro turno. E também, reconhecendo a candidatura da Natasha, porque deve ter um apelo também da esquerda grande no estado. Então, havendo quatro candidaturas, acho muito difícil que haja uma eleição de primeiro turno.
Agora, isso pode mudar, a depender de quantas candidaturas vão sobrar de todas essas articulações. Mas hoje acho muito difícil não ter segundo turno se mantiver o cenário de quatro candidaturas.
MidiaNews – A senhora comentou sobre a preferência de alguns deputados nas chapas proporcionais. Não corre o risco do MDB ficar isolado nessa história e ao mesmo tempo a tua candidatura ao Senado enfrentar uma espécie de cavalo de Tróia, ou seja, vocês enfraquecerem sua candidatura ao Senado?
Janaina Riva – Historicamente, todas as candidaturas aqui que tivemos de dois votos, sempre deu zebra. Não sei se tem registro na história, de eleger dois candidatos da mesma chapa. Estamos trabalhando com pesquisas, informações e com histórico de Mato Grosso, e como disse aqui, dificilmente elege dois da mesma chapa.
O MDB está preocupado com essa eleição no Senado e de dar liberdade para poder construir. E tenho primeiro e segundo voto dobrando com praticamente todos os candidatos. Isso que é preciso entender. Eu não tenho veto de nenhum dos lados com relação aos apoiadores, deixando de lado essa questão partidária.
Hoje, pensando nesse projeto, o melhor cenário para o MDB, sem dúvida, é esse. E os deputados, concordamos com isso, porque um tem uma preferência, outro tem o outro. E para que os deputados sejam reeleitos e para que possamos aumentar a bancada, eles entendem que a gente vai ter que priorizar uma única e exclusiva candidatura majoritária, senão não vai dar certo. A gente vai ter muita dificuldade em manter a chapa coesa.
E hoje a chapa está coesa de que sou a candidata assinada. E o restante todo mundo diverge. A situação hoje é essa.
MidiaNews – Essa questão da eleição também passa por um posicionamento que a senhora adotou no início desse ano, com um acirramento contra o Governo do Estado. Acha que até a eleição do que vem é possível abrir um diálogo com o governador Mauro Mendes ou esse distanciamento está cravado?
Janaina Riva – Não, não acho que o distanciamento é definitivo. Agora, pode até ser que seja definitivo com relação ao governador. Ele já manifestou várias vezes que não tem interesse de estar com o MDB. O governador é um candidato a senador. Mas isso não quer dizer que não possa ter diálogo com um grupo que hoje ocupa o governo e que estará no governo.
Não vou dizer que isso seja algo que não possa acontecer. O diálogo vai acontecer. Como presidente de partido, já me dispus a conversar com todos. E vou conversar com todos. E a gente vai depender muito dessas articulações daqui até lá. Como te disse, o cenário hoje é muito nublado de quem serão os candidatos, inclusive para o eleitor.
O governador deve estar preocupado com a eleição dele de Senado. Foi aí que desencadeou toda essa discussão, divergências. Foi daí que tudo começou a sair. Até enquanto eu era deputada estadual e não pretendia deixar de ser deputada, estava tudo bem fazer parte da base. Quando o governador viu que meu interesse era crescer politicamente, aí eu já não servia mais, porque atrapalhava o projeto dele.
Minha briga não é com o governo. Ao contrário, acho que governo está indo bem, acho que tem muitas áreas que merecem melhorar, merecem mais atenção, mas de uma forma geral o governo é muito bem avaliado, é um governo que tem muitas entregas, muitas obras…
A questão, acredito, seja mais pessoal do que uma divergência com relação ao governo. Mas ele deixa o governo em março e acredito que em março o jogo esterá zerado e vamos conversar com todos.
MidiaNews – Para ficar claro: o problema não é o Palácio Paiaguás, é o Mauro Mendes?
Janaina Riva – Na verdade, o problema do Mauro Mendes que é a Janaína, nunca foi o meu problema. Essa briga toda desencadeou através de declarações dele. Enquanto estive por seis anos servindo o governo, atuando, ajudando a construir, passando por momentos difíceis, de muita discussão, usando também dos meus amigos e das minhas habilidades que construí ao longo de uma vida e que sempre acreditaram muito naquilo que defendi, eu fui útil. Quando passei a ser uma concorrente, deixei de ser útil.
É uma característica do governo descartar as pessoas. Não sou a primeira com quem o governador fez isso. Tem um histórico de pessoas que foram descartadas, que fizeram parte da gestão, que ajudaram, que contribuíram.
MidiaNews – Há alguma possibilidade de uma composição com Mauro e Pivetta em 2026?
Janaina Riva – Acho difícil. Mas não vou fechar as portas para ninguém, quero conversar com todo mundo. Quero entender qual é o projeto de cada um. Obviamente, é difícil, mas não é algo que é impossível em nenhum dos aspectos. Não sou uma pessoa de fechar as portas para ninguém.
Já passei por tanta coisa: apanhei muito politicamente e passei por cima depois. Tem que ver, agora, o que é melhor para mim. Chega de pensar nos outros. Pensei até hoje em construções de chapa, ajudei a montar a chapa de Governo, de Senado. Essa chapa mesma do Mauro e do Otaviano que disputa a primeira eleição, é uma chapa que sai da minha oposição com Zeca Viana na Assembleia. Isolada!
Enquanto todo mundo estava na aba, à sombra do governo Pedro Taques, nós dois éramos os únicos que fazíamos oposição. E, aí, de repente, a gente ajuda a construir um governo que hoje, especialmente, se vira contra mim. Que ajudei a criar. Eu que preparei, que organizei o terreno… Quem foi para o front contra o governador Pedro Taques fui eu, em uma época que ele era extremamente forte politicamente falando.
MidiaNews – E a sua relação com o Pivetta?
Janaina Riva – Não existe mais. Hoje não temos mais proximidade. Às vezes, quando preciso de uma coisa ou outra em algum município, que é papel do Estado, o aciono, ele corresponde, atende um prefeito ou outro, mas hoje é uma relação muito distante. É uma relação que praticamente não existe.
MidiaNews – Mas uma bandeira branca entre a deputada Janaína e o governador Mauro Mendes não seria benéfica?
Janaina Riva – Será? Não sei se seria benéfica. Hoje a minha atuação é muito importante para a população, atuando dessa forma independente que estou atuando. Porque o perfil do governador é que ele quer que as pessoas façam tudo que ele quer do jeito que ele quer.
Essa votação [do reajuste salarial] dos servidores do Poder Judiciário deixa isso muito claro. Não é uma pauta, é uma birra. Quer dizer: quero assim, mando assim, tem que fazer assim.
Isso não seria só prejudicial para o Estado, me sujeitar a isso, como seria para mim também, pessoalmente. Depois que soltei das amarras que tinha no governo, me sinto muito mais livre, muito mais à vontade para trabalhar as minhas pautas.
Hoje, não tenho interesse nenhum em uma reaproximação. Respeito, não pretendo voltar a bater boca ou ter discussões de baixo calão. Já fiz isso para me defender, porque tinha sido atacada, respeito mas não tenho essa pretensão de me reaproximar nesse momento.
MidiaNews – E essa posição é entendida pelos seus correligionários?
Janaina Riva – Na verdade, eles não entendem porque o governador fez isso comigo. A maioria não entende, porque eles viram tudo que fizemos juntos, o trabalho que foi feito, o quanto ajudei a construir, o quanto me dediquei. A maioria deles não entende porque que isso aconteceu.
Obviamente que sofrem pressão diariamente: para deixar o partido, ou os que não estão no partido, para deixar de me apoiar. Isso é uma coisa rotineira na minha vida. Essa violência política com essa estrutura monstro, que é a estrutura do governo. Eu ajudei a criar tudo isso e hoje isso me ataca.
MidiaNews – As suas redes tem como foco as pautas do combate à violência à mulher, à defesa dos direitos da crianças e da mulher, e uma defesa ao agro, especialmente ao pequeno produtor. Esse será o tom da campanha de 2026?
Janaina Riva – Nesse momento, reforçar as minhas pautas é importante. Estou usando as pautas que sempre trabalhei e estou dando mais protagonismo a elas para que tenham um maior alcance para as pessoas me conhecerem melhor.
Porque o deputado estadual é conhecido só na eleição. E durante esse meio tempo, ficam perdidos na cabeça da população. O fato de ser a única mulher contribui, porque as pessoas sabem quem eu sou, mas muitos ainda não sabem qual é minha área de atuação, quais são as minhas bandeiras. E é difícil fazer essa informação e chegar lá na ponta.
MidiaNews – No estado que mais mata no Brasil, a impressão que se dá é que esse discurso contra o feminicídio não ressoa aqui. Por quê?
Janaina Riva – Ainda tem muito machismo, muito patriarcado, de achar que a mulher tem que obedecer, tem que fazer aquilo que o homem quer, que a mulher não tem direito a falar, que a mulher não tem direito a ter independência financeira, que a mulher não tem direito de escolher os rumos da vida dela.
É algo que temos que trabalhar, é uma questão cultural, mas que precisamos trabalhar na educação. Inclusive, as mulheres ainda não entenderam o quanto tudo isso é danoso para elas. Algumas só entendem quando são violentadas.
Eu vi recentemente o debate da Cintia Chagas com a Manuela D’Ávila e achei muito interessante como as duas conseguiram, mesmo com ideologias diferentes, convergirem na possibilidade de união de mulheres para o enfrentamento à violência, que é o nosso objetivo.
Independente de ser uma mulher conservadora, não conservadora, de esquerda ou de direita, é preciso entender que a pauta de proteção da mulher e das crianças tem que ser de todas nós.
Não dá pra ficar: essa é uma pauta da esquerda, essa é uma pauta que as conservadoras fazem. Em algo aí temos que nos entender, em algum momento temos que nos encontrar. E esse momento de nos encontrar é de que nenhuma de nós pode aceitar nenhum tipo de violência. São diversos tipos de violência que nós mulheres sofremos. E nós temos feito isso na Assembleia.
MidiaNews – Esse tema do feminicídio pode fazer alguma diferença na campanha da senhora?
Janaina Riva – Acho que todo mundo sabe o que quero fazer em Brasília, todo mundo sabe. Essa é a pauta principal, obviamente. Agora, ela tem que ser discutida de uma forma mais séria: debatendo com mulheres de diversas classes, raças, ideologias, para entender o que está errado.
Nós tivemos a senadora de Mato Grosso, Margareth Buzetti, que fez um pacote anti-feminicídio com uma legislação que tornou mais duras as penas e maiores, inclusive. A resposta disso foi um aumento de morte de mulheres vítimas de feminicídio no estado de Mato Grosso.
É uma pauta séria que nunca teve união aqui no estado. Aqui sempre teve muita vaidade. E nunca teve essa união de mulheres em prol da pauta, que é o que precisamos.
MidiaNews – A senhora vislumbra uma mudança de cenário, a curto prazo, nesse ranking vergonhoso que Mato Grosso está?
Janaina Riva – Se não efetivar as legislações aprovadas na Assembleia, não. Não vejo. Hoje, com Estado sendo conduzido do jeito que está, não vejo. Agora, com uma mudança de governo, com certeza vejo que isso possa ser possível. Com cenário novo, de pessoas novas, que priorizem a pauta .
Eu já aprendi que para você combater violência é preciso mais ouvir do que falar. Porque todo dia é um aprendizado diferente.
Veja entrevista na íntegra:
FONTE: MIDIA NEWS
