terça-feira, outubro 28, 2025

Menor custo da CNH sem autoescola é promessa duvidosa, avalia associação | RDNEWS

fim da obrigatoriedade de autoescola para tirar a Carteira Nacional de Habilitação (CNH), que já recebeu o aval do presidente Lula (PT), vai causar a precarização dos serviços, formar condutores ruins e desempregar cerca de 20 mil pessoas em Mato Grosso, avalia Edmundo Martins da Silva, dono de uma autoescola em Várzea Grande e presidente da Associação das Autoescolas de Várzea Grande e Nossa Senhora do Livramento (AAVGNSL). Para ele, a redução do valor da CNH com essa mudança, é uma “promessa duvidosa” e a opção mais viável seria a redução do número de aulas obrigatórias, em vez da extinção do curso.

Ilustrativa/IA

A medida está prevista para ser implementada via resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) já em novembro. O anúncio foi feito no dia 1º de outubro pelo Ministério dos Transportes. Em entrevista ao , Edmundo afirma que o setor foi pego de surpresa com o anúncio. Desde então, o impacto já vem sendo sentido pelas autoescolas. “Desde o [ex-presidente] Temer vinha tendo essas ameaças. O [ex-presidente] Bolsonaro tentou, mas não saiu do papel, o Lula no começo tinha falado sobre, mas a gente achava que não iria pra frente”, relata.

“O nosso desespero começou na primeira fala do ministro, no mês de setembro. Ele deu a primeira reportagem de manhã cedo. Quando saiu a reportagem, as pessoas automaticamente já entenderam que acabou”, acrescenta.

Já tem autoescola fechando. Nem precisou chegar a resolução. Já tem gente sendo demitida, contas ficando no vermelho


Edmundo Martins, presidente da AAVGNSL

Conforme Edmundo, vários alunos já ligaram cancelando aulas e pedindo a rescisão do contrato: “Já tem autoescola fechando. Nem precisou chegar a resolução. Já tem gente sendo demitida, contas ficando no vermelho. Aqui na minha autoescola, eu tenho cerca de 50 alunos por mês e esse mês já caiu para a metade. O impacto já está sendo sentido”.

Ele critica que a mudança deveria passar pelas comissões da Câmara e do Senado para avaliação dos riscos e impactos, e não ser resolvida ‘em uma canetada’. “A Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados deveria ser ouvida e infelizmente disseram que vai ser assim, acabou e pronto. Qual é o papel dos deputados lá? Nenhum. A Casa de Leis foi ignorada”, lamenta.

Rodinei Crescêncio

Edmundo Martins, representante do setor das autoescolas

O início do processo que pode resultar no fim da obrigatoriedade da autoescola para a retirada da CNH já foi autorizada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Com essa decisão, foi aberta uma consulta pública que ficará disponível até 2 de novembro. Depois dessa fase, ainda serão necessárias outras etapas, como discussões no Conselho Nacional de Trânsito (Contran). As mudanças atingem tanto a categoria de moto quanto a de carros, além das focadas em transporte de carga e passageiros. 

Redução de custos

Uma das justificativas do Ministério dos Transportes é de que o custo para tirar a habilitação vai abaixar – projeção aponta barateamento em até 80% – e também haverá redução no número de condutores não habilitados em circulação, que hoje chegaria a cerca de 20 milhões no Brasil de acordo com a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).

Hoje, o custo para tirar a CNH nas categorias A (motos) e B (carros) em Cuiabá e Várzea Grande custa cerca de R$ 2,7 mil, já com todos os custos inclusos, como aulas teóricas e práticas, combustível, taxas do Detran e outros. A projeção seria que o custo cairia para algo entre R$ 750 e R$ 1 mil.

Para Edmundo, o valor não paga “nem as taxas”. “Quando cria essa esperança de 80%, que vai dar cerca de R$ 750, a conta não fecha. Se você analisar hoje, R$ 750 não paga nem as taxas. É uma promessa duvidosa”.

A gente consegue baixar o custo desde que eles reduzam o número de aulas


Edmundo Martins

O representante também diz que, a redução do custo poderia vir com a diminuição do número de aulas obrigatórias, sem tirar a obrigatoriedade da autoescola. “Hoje nós temos que dar 45 aulas teóricas e de 20 aulas práticas. O próprio Contran que impôs isso. A gente consegue baixar o custo desde que eles reduzam o número de aulas”.

“Tem condutor que não precisa fazer as 20 aulas práticas. Pode reduzir. Coloque 10 aulas, isso já faz com que abaixe o custo. Não precisa tirar a obrigatoriedade da autoescola, só diminuir o número de aulas, igual era no passado. Antes eram 7 aulas práticas e os alunos passavam”, acrescenta.

Sobre a redução no número de condutores na ilegalidade, Edmundo afirma categoricamente de que o número não vai cair. “Existe sim esses 20 milhões sem habilitação, mas não é pela questão do valor, e sim por desinteresse em tirar a CNH”.

Rodinei Crescêncio

Edmundo Martins, representante do setor das autoescolas

Condutores piores

Com a nova resolução, está prevista uma nova profissão, a do “personal instrutor” de trânsito, que poderá dar aulas práticas de direção de forma autônoma, sem precisar estar vinculado a uma autoescola.

Edmundo alerta sobre a qualidade do serviço. “Qual é a garantia que ele vai receber e vai cumprir com a sua obrigação? O instrutor autônomo simplesmente não tem compromisso. Não tem endereço fixo, não vai ter um controle. Não tem como fiscalizar”, dispara.

O instrutor autônomo simplesmente não tem compromisso. Não tem endereço fixo, não vai ter um controle. Não tem como fiscalizar


Edmundo Martins

Além disso, ele também salienta que o profissional provocaria uma ‘uberização’ da categoria. “Hoje uma aula prática na autoescola é R$ 35. Como o instrutor vai conseguir cobrir isso? Se ele der 10 aulas no dia, por R$ 35 cada, vai ganhar R$ 350. Mas tem outros custos, porque ele vai ter que ter um carro, vai ter que arcar com combustível. Se o carro quebrar vai sair do bolso dele. Para ele seria mais vantajoso estar dando aula numa autoescola, onde tem o salário fixo dele, carro da empresa”.

Outro apontamento feito por Edmundo, é de que a segurança das aulas vai ser afetada. Hoje, o veículo da autoescola é adaptado para aulas, passa por inspeções do Inmetro e tem o envelopamento na carroceria que avisa outros condutores de que é um condutor que está aprendendo. Com o personal instrutor, isso não vai acontecer.

“Você dirigiria em um veículo que não é adaptado? Ninguém faria essa loucura. Se com o pedal do professor já é arriscado, imagina sem. Não se tem essa segurança, esse preparo técnico e nem mecânico.

FONTE: RDNEWS

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