sábado, novembro 1, 2025

Mais de 40 pessoas enterradas como indigentes nos últimos 20 anos são identificadas em Cuiabá

Mais de 40 pessoas enterradas como indigentes nos últimos 20


Mais de 40 pessoas mortas sem identificação nos últimos 20 anos são identificadas em MT
A Perícia Oficial e Identificação Técnica de Mato Grosso (Politec-MT) conseguiu revelar a identidade de 42 pessoas enterradas inicialmente sem qualquer identificação. A iniciativa do projeto “Lembre de mim”, uma parceria entre a Politec e a empresa Griaule, revisou 122 casos de pessoas mortas entre 2009 e 2025.
Desde janeiro, 34% das vítimas não identificadas em 16 anos ganharam nome, em Cuiabá. A identificação biométrica usa as impressões digitais coletadas de pessoas falecidas não identificadas e realiza o cruzamento com bancos de dados digitalizados que reúnem registros de milhões de pessoas.
O projeto usa informações de órgãos como a Secretaria de Segurança Pública que esta digitalizando o acervo civil do estado desde 2024, convertendo as impressões digitais e as faces dos cidadãos para o meio digital.
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Muitos dos falecidos não puderam ser identificados no passado pela ausência de tecnologia biométrica. Segundo dados do projeto, existem hoje cerca de 400 mil vítimas sem identificação no IML de Cuiabá.
Para a dona de casa Tereza de Andrade, 72 anos, avó de Thiago Carlos, a confirmação do paradeiro do neto veio 12 anos depois. Na época do acontecido, a família chegou a colocar cartazes por toda a cidade atrás do paradeiro do rapaz. Quando soube que o corpo do neto havia sido identificado, a primeira reação dela foi pensar “Mas que corpo? Não tem mais corpo”. Porque faz tanto tempo, tantos anos, então não tem mais corpo.”
Para ela, a notícia foi uma conclusão ao caso, porém, ela se abala ao pensar que não vai mais encontrar com o neto, como ansiava.
“A tristeza é muito grande, principalmente quando você está angustiada. Agora não tenho mais que esperar por ele. Não vou pensar que ele chegou no portão e está gritando por mim” , relembrou ela.
Thiago Carlos Neto, desaparecido desde agosto de 2012
Arquivo pessoal
Esse resultado foi alcançado com a implementação do Sistema Automatizado de Identificação Biométrica (ABIS). A empresa fornece ao Governo de Mato Grosso toda a tecnologia de reconhecimento facial, biométrico e serviços na emissão de documentos e pesquisa papiloscópica, que é a investigação e análise de impressões papilares, como as digitais, para a identificação humana.
Ao g1, Thiago Ribeiro, diretor de negócios da Griaule, explicou que o sistema biométrico possui cerca de 4 milhões de pessoas cadastradas, que teve um trabalho de digitalização do acervo estadual. O estabelecimento desse sistema serve para resolver casos de pessoas desaparecidas e de vítimas de acidentes.
“As biometrias, impressões digitais ou a face, são transformadas em templates biométricos e são pesquisados nessa base de dados para que seja possível fazer a determinação da identidade daquela pessoa. Isso permitiu com que pessoas desaparecidas há mais de 20 anos fossem identificadas” ,explicou ele.
Ele também explicou que o sistema biométrico conta com criptografia avançada, inteligência artificial e algoritmos que processam informações em milissegundos durante a checagem. O tempo médio de identificação das vítimas é de até 13 dias.
Identificação das pessoas
A primeira fase do processo é a identificação do corpo que chega ao IML ou está no sistema como sem identificado. A coordenadora do projeto “Lembre de mim” e papiloscopista do IML, Simone Delgado, conta como este processo é realizado.
“Hoje em dia se entra um corpo não identificado, nós fazemos a coleta das impressões digitais, até mesmo em casos desafiadores, a gente consegue recuperar tecido de corpos em avançado estado de decomposição/ carbonizados e nós processamos essa impressão digital da pessoa desconhecida no sistema automatizado” ,explicou ela.
A base biométrica utilizada para a identificação do corpo e da própria família é atualizada através dos documentos emitidos no estado. Por exemplo, ao atualizar o Registro Geral (RG), todos precisam tirar uma foto. Ao emitir o documento pela primeira vez, são coletadas as impressões digitais dos dez dedos. Estes dados (foto e impressão digital) também são utilizados para identificar os corpos no IML. Após a identificação do corpo, o próximo passo é rastrear os familiares.
“Cada indivíduo tem a digital única. Por conta dessa individualização, o sistema faz essa pesquisa e ele vai nos apontar os candidatos que tem as impressões digitais semelhantes. É assim que a gente consegue, por exemplo, já identificar qual que é a família daquela pessoa” ,contou Simone.
É o caso de Rafael de Oliveira Flores, 24 anos, que deixou de ter contato com a família pouco depois de 2014, após uma visita de um irmão. Quando o pai faleceu, em 2016, a meia irmã dele, Franciele Paula Flores tentou entrar em contato para avisar do falecimento.
Ela procurou o irmão por muitos anos, mas, como não o encontrou, acreditou que ele estava trabalhando em alguma fazenda e não quisesse contato. Foi apenas em 2025 que Paula teve a notícia: Rafael havia falecido em fevereiro de 2015, um ano antes do pai.
“Sonhava muito com ele e tinha a esperança de encontrar, mas não desse jeito. Sempre achei que seria eu a encontrar o meu irmão, e de certa forma foi” contou.
Paula comenta que só foi possível contatar a família, pois ela mantém os seus dados atualizados no sistema. Por ser doadora de medula, ela sempre mantém as informações como telefone e endereço ajustadas para, caso tenha alguma compatibilidade, poder ser encontrada sem dificuldade.
“Eles fizeram um cruzamento de dados, começando pela mãe dele. Não conseguiram encontrar, pois, os dados estavam desatualizados então eles foram procurar pelo nome do nosso pai, que não é tão comum, o que pode ter ajudado. Buscando pela filiação, eles chegaram até mim, cruzando os dados genéticos e da digital. Foram de pessoa a pessoa da família até encontrarem algum contato válido.” explicou ela.
Rafael de Oliveira Flores e seu irmão (direita pra esquerda)
Arquivo pessoal

FONTE: Lapada Lapada

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