Não existem razões científicas que justificam o assédio sexual contra mulheres. A violência é entendida como um comportamento social imoral e inaceitável. O que as pesquisas têm buscado é entender as causas que podem contribuir para uma definição mais clara do abuso. A pesquisadora americana Louise Fitzgerald estuda o tema, tem uma obra intitulada ‘Assédio Sexual: Teoria e Pesquisa’, diz que raramente o assédio é apenas desejo sexual, o ato define mais as características de quem o pratica, como pessoas narcisistas, que não controlam o exercício de poder, dominação e hostilidade em relação às mulheres, além da cultura predominante de minimizar o ato e até culpar a própria vítima pela atitude desrespeitosa e agressiva que sofreu. Lembremos de Simone de Beauvoir, em O Segundo Sexo: “Ninguém é mais arrogante, violento, agressivo e desdenhoso contra as mulheres, que um homem inseguro de sua própria virilidade.”
Reforço o óbvio, que o instinto sexual é de origem biológica, mas o assédio sexual é um comportamento aprendido de expressar poder, desrespeitar e violentar a mulher e é uma escolha social condenável, em todos os seus aspectos e instâncias. É muito difícil superar esses comportamentos misóginos, agressivos, violentos contra a mulher, sobretudo numa sociedade, onde milhares de mulheres, elas próprias, não condenam a violência contra a mulher e pronto. Primeiro, muitas abrem parênteses para seus julgamentos preconceituosos medievais, como se estivessem avaliando se a mulher violentada, mereceu ou não a agressão.
A teoria descrita pela pesquisadora reforça o constrangimento que transmite a imagem da presidente do México, Claúdia Sheinbaum sendo beijada e apalpada numa via pública enquanto cumprimentava as pessoas. O cidadão mexicano está preso e a presidente afirmou que vai entrar com ação penal contra ele para responsabilizá-lo pelo ato e que no processo está a autoridade dela, como presidente do México e como a mulher que foi desrespeitada no seu espaço mais pessoal, seu corpo.
Dias depois, em Mato Grosso, estado indicado com os piores índices de violência contra a mulher no Brasil a única deputada estadual eleita, Janaína Riva Fagundes foi vítima de assédio e importunação sexual através de um áudio de cunho sexual grosseiro, desrespeitoso, gravado por um cidadão asqueroso de Rondonópolis, que foi demitido pela prefeitura e após, ainda tentou justificar seus desvios sociais e morais, dizendo que enviou o áudio apenas para um amigo, que o divulgou em grupos de mensagens. Ora, o crime está no conteúdo que ele gravou, na fala absurda que expressa desejo sexual pela pessoa da deputada.
Na mesma semana, na Tailândia o diretor do concurso Miss Universo, em uma crise de alter ego, humilhou publicamente a Miss México. Ela se levantou, ele a chamou de ‘burra’ e ordenou que ela se sentasse e ela disse: ‘me levantei e levantarei a minha voz contra essa humilhação.’ Começou a andar em direção à porta para deixar o local, surpreendentemente, foi seguida pela maioria das candidatas. Foi lindo ver mulheres se levantando umas pelas outras.
Sem a partilha das histórias de assédio sofrido pelas mulheres que participam da política ou não, não é possível avançar, aumentar a visibilidade dos contextos de violência e sofrimentos vivenciados. O escopo da luta pelo fim da violência contra a mulher é ainda muito estreito e as políticas públicas estão sempre anunciando programas para um futuro distante, enquanto os casos explodem em números e formas de crueldade. Não temos tempo a perder.
Estamos nos aproximando da Semana Binacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, de 25 a 29 de novembro, que trata da integração de alguns países e cidades que lutam pelo fortalecimento da justiça no enfrentamento à violência contra a mulher, o Senado Federal apresenta o programa de prevenção a violência contra a mulher chamado ‘Antes que Aconteça’, juntando Congresso Nacional, Ministério da Justiça e outras instituições, tentando atuar no sentido de proteger as mulheres, promovendo ações educativas em todo o país, enquanto isso, ‘o machismo faz com que o mais medíocre dos homens se sinta um semideus diante de uma mulher,’ Simone de Beauvoir.
Olga Lustosa é socióloga e cerimonialista pública. Escreve com exclusividade para esta coluna aos domingos. E-mail: olgaborgeslustosa@gmail.com
FONTE: RDNEWS







