A resistência masculina ao exame de toque retal, principal ferramenta para detecção precoce do câncer de próstata, vem diminuindo graças ao trabalho contínuo de informação e às campanhas de conscientização. A avaliação é do urologista Marcos Rezende, professor e especialista pelo Centro de Referência em Câncer A.C. Camargo, em São Paulo.
Acredito que o principal para passar ao paciente, é esclarecer que tudo isso vem da falta de informação
Em entrevista ao MidiaNews, o médico, natural de Araputanga e formado pela Unic, em Cuiabá, explicou como o acesso à rede pública e privada para realização do exame, além do papel das redes sociais, tem contribuído para mudar esse cenário.
“Hoje é muito mais fácil conversar sobre o Novembro Azul (campanha mundial de conscientização sobre a saúde do homem) do que há 5, 10 anos. As campanhas estão sendo muito bem feitas e divulgadas. Isso é muito válido, e a tendência é que seja um assunto habitual. Algo que você possa conversar com a pessoa não apenas no sentido da doença, mas no sentido de orientação”, afirmou.
Ao ser questionado sobre como convence um paciente relutante a realizar o toque retal, Rezende afirmou que a informação é a principal ferramenta para quebrar estigmas e reduzir o medo
“Acredito que o principal para passar ao paciente, quando ele tem receio, seja pelo estigma do câncer ou do exame em si, é esclarecer que tudo isso vem da falta de informação”.
“Quando você explica bem ao paciente a importância e os possíveis desfechos é muito mais fácil compreender e se adaptar. Quando entende, ele vai mais tranquilo”.
Sobre a resistência masculina aos check-ups, o urologista atribui o comportamento a fatores culturais.
“O homem normalmente acha que não vai acontecer com ele. Parte dessa premissa, além da questão do trabalho e do receio. Tudo isso se soma”, disse.
Ainda assim, ele observa uma mudança de comportamento. “Com várias campanhas e a constante divulgação de informações, vejo hoje uma relutância muito menor dos homens em realizar esses exames”.
Próstata e fatores de risco

Dieta inflamatória, sedentarismo, histórico familiar e idade são fatores que aumentam significativamente o risco
Na entrevista, o médico também explicou a função da próstata e os principais sinais de alerta. “A próstata é um órgão que fica na pelve do homem. Ela encobre a uretra, que passa dentro dela, e tem uma função muito importante para o organismo masculino”, contextualizou.
“Toda vez que há alguma alteração na próstata, os sintomas que o paciente costuma apresentar estão relacionados à micção: disúria, ou seja, dificuldade; ardência ao urinar; presença de sangue na urina; incontinência urinária; retenção urinária e necessidade de fazer força para urinar. Portanto, quando há alterações nesse órgão, esses são os sintomas mais característicos”.
Sobre os fatores de risco, o especialista destacou que a próstata está muito relacionada à questão da idade. “Quanto maior a idade, maior o risco de desenvolvimento da doença. Histórico familiar é um fator importante também. Saber se há casos na família já é um sinal de alerta para que o paciente procure ajuda”, afirmou.
Ele também ressaltou a importância do estilo de vida. “Outro ponto que precisamos reforçar é a atividade física e a dieta. A alimentação é fundamental: é importante evitar dietas inflamatórias. Medidas saudáveis ajudam na prevenção. Já dieta inflamatória, sedentarismo, histórico familiar e idade são fatores que aumentam significativamente o risco”, completou.
Diagnóstico e tratamento
Yasmin Silva/MidiaNews

“Estamos colhendo os efeitos de um período em que a alimentação não era saudável”
De acordo com as diretrizes da Sociedade Brasileira de Urologia, Rezende reforçou a idade indicada para o início do rastreamento.
“Na população masculina em geral, a partir dos 50 anos todo homem deve realizar o exame de toque reto e o PSA. Nos casos em que há alto risco familiar, essa faixa etária pode ser reduzida para entre 40 e 45 anos”, explicou.
Ele destacou que o acompanhamento deve ser feito anualmente. O urologista também enfatizou que a fase inicial do câncer de próstata costuma ser assintomática.
“A próstata tem várias regiões, e o tumor geralmente surge na parte mais periférica. No início, muitas vezes o paciente não percebe nada. No toque, conseguimos identificar alterações nessa região com mais precisão, assim como pelo exame de PSA, que mede a concentração da substância no sangue”, afirmou.
Para confirmar o diagnóstico, a biópsia é indispensável.
“Para confirmar o câncer, pedimos a biópsia. O escore de Gleason é o sistema que usamos para determinar o grau de agressividade do tumor, ele vai de 6 a 10. Saber essa classificação é fundamental. Os exames de imagem ajudam a avaliar o tamanho do tumor e se houve disseminação, mas não fecham o diagnóstico. Eles podem sugerir muito, mas a confirmação é sempre pela biópsia”.
Sobre o aumento de casos registrados em Mato Grosso, o médico citou uma combinação de fatores.
“A população vive mais hoje. Além disso, estamos colhendo os efeitos de um período em que a alimentação não era saudável: muito consumo de embutidos, maior exposição a dietas inflamatórias e, antes, as pessoas não realizavam diagnóstico. Tudo isso pesa”, explicou.
Acesso ao exame

A próstata está muito relacionada à questão de idade. Então, quanto maior a idade, maior o risco do paciente vir a desenvolver. Histórico familiar é um importante risco também
Ao ser questionado sobre como a população pode ter acesso ao exame, o especialista explicou o caminho pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
“Na rede pública a gente tem um acesso à atenção primária, ou seja, os postos de saúde, que teoricamente fazem esse trabalho de acompanhar o paciente”, detalhou.
“Se o paciente ver que tem alguma coisa diferente, alguma coisa chamativa, ele vai acabar encaminhando para o especialista urologista. A rede pública está aberta para todos os pacientes poderem fazer esse acompanhamento. A partir do momento que ver que tem algo de diferente, aí ele é acompanhado para direcionar o tratamento dele”.
Sobre o acesso pela rede privada, ele comentou: “Na rede privada, o ideal é que tivesse o clínico geral ou geriatra acompanhando e passar para o urologista, mas a gente vê que muitas vezes pula essa etapa e acaba indo para o urologista direto”.
Avanços terapêuticos e qualidade de vida
Rezende detalhou as opções de tratamento, que variam conforme o estágio da doença. Um dos principais avanços, na sua avaliação, está nas técnicas cirúrgicas.
“A principal mudança que a gente tem localizado é a cirurgia robótica, que ela mudou a perspectiva, porque antes tinha cirurgia aberta muito tempo atrás, veio pra cirurgia vigilaparascópica e agora tem a cirurgia robótica, que ela tenta preservar mais os órgãos em volta e a região e a cirurgia, eles conseguem preservar de forma mais habitual e deixar o paciente com menos sequelas do tratamento”.
“Então, questão de incontinência, impotência, tudo isso, você consegue diminuir o risco a partir do momento que vai pra cirurgia robótica. Nos casos mais avançados, temos a descoberta dessas medicações de bloqueio hormonal e formas de comprimido, elas substituíram a quimioterapia como primeira opção de tratamento. Mesmo no caso avançado, normalmente o paciente vai fazer o que? Bloqueio hormonal com a injeção, injetável e mais comprimidos, que o paciente toma em domicílio mesmo e normalmente tem um bom controle da doença”, afirmou.
Ele ainda citou a “vigilância ativa” para tumores de baixo risco.
Conscientização e redes sociais
Yasmin Silva/MidiaNews

Urologista ressaltou a necessidade de buscar fontes confiáveis para tratamento
O médico fez uma análise positiva da evolução do Novembro Azul e do impacto das plataformas digitais.
“A impressão nossa é que cada vez mais, cada ano, tem melhorado o acesso a informação para a conscientização”.
Sobre o papel específico das redes sociais, Rezende foi enfático. “Eu acredito que sim, porque aí normaliza. A pessoa conversa de uma forma, pra quem já teve, ele fala sobre aquilo de forma habitual e não fica com aquele estigma de, ‘ah, paciente debilitado’”.
“Quando você faz esse tipo de relato, acaba que as pessoas começam a refletir, falam assim, ‘opa, tem tratamento, eu posso ficar bem também’. Então assim, a rede social hoje ela ganhou uma dimensão gigantesca em termos de informação”, completoiu.
O urologista ressaltou, porém, a necessidade de buscar fontes confiáveis.
“É claro que a gente vai ter alguns viéses no meio do caminho, mas se a pessoa buscar orientação em saúde, buscar nas sociedades de medicina, buscar colegas referência, tudo isso daí vai ajudar a pessoa a ser bem informada”, finalizou.
FONTE: MIDIA NEWS







