A família do idoso João Antônio Pinto, de 87 anos, morto a tiros por um policial civil durante uma suposta abordagem, em Cuiabá, recebeu imagens que apontariam a ligação de Elmar Soares Inácio, de 45 anos, com a Associação Brasil sem Teto, entidade que teria promovido invasões na região do Contorno Leste. Foi nessa área, onde a vítima possuía uma propriedade, que o idoso foi morto em 23 de fevereiro de 2024.
Quando recebi esse vídeo e vi o Elmar, fiquei muito chocada. Isso, pra mim, tem muito a dizer
Segundo as investigações, Elmar foi quem acionou o cunhado, o policial civil Jeovanio Vidal Griebel, de 41 anos – autor do disparo que matou João Pinto – alegando ter sido ameaçado de morte pela vítima durante um suposto desentendimento próximo à propriedade do idoso.
Segundo Gysela Maria Ribeiro Pinto, filha de João, a versão apresentada por Elmar em depoimento é contraditória, e o vídeo em que ele aparece em um evento da associação apenas aumenta as suspeitas da família, que segue pedindo por Justiça.
O inquérito que investigou o caso foi arquivado no final de 2024, sob a alegação de legítima defesa do policial. Depois, o procedimento foi encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPE), que pediu novas diligências à Polícia. Até o momento o caso não foi concluído.
O vídeo trazido pela família foi registrado durante um evento realizado pela associação, em junho de 2023, no Contorno Leste. À época, o registro foi publicado no portal “News Brasil Notícia Popular Movimentos sociais” e também em um perfil no Instagram chamado “Movimento Brasil Sem Teto”, hoje já desativado.
Além do vídeo divulgado nesses perfis, fotos em que Elmar aparece, foram compartilhadas por um advogado que atuou para a associação, em sua rede social. Esse compartilhamento ocorreu em setembro de 2023, quase três meses depois do evento e da publicação nos outros perfis. No post, o advogado confirma se tratar do “Contorno Leste”.
“Quando recebi esse vídeo e vi o Elmar, fiquei muito chocada. Isso, pra mim, tem muito a dizer. O que ele estaria fazendo no meio de uma comemoração da associação que invadiu a nossa área?”, questionou Gysela.
“Essa publicação tem na página do advogado deles, o Dr. Daniel Ramalho. Nela aparece o Elmar, em 2023, alguns meses após a invasão. Isso nos deixou muito consternados. O que será que ele estava fazendo lá? Será que ele tinha participação? Porque ele disse, em depoimento, que estava fazendo uma obra para uma pessoa lá de dentro. Como assim? A pessoa que invade tem dinheiro para pagar um construtor? Isso tudo é, no mínimo, estranho, pra não dizer suspeito”, completou.
Contradições
Em depoimento, Elmar afirmou trabalhar com construção civil e disse que, no dia dos fatos, foi buscar um funcionário em casa, “em um grilo próximo ao local do ocorrido”, conforme trecho do depoimento.
Segundo o relato, a esposa do funcionário informou que o marido “estaria roçando um terreno próximo à estrada dos fundos do Belvedere e Avenida Contorno Leste”. Por volta das 8h, Elmar teria parado sua caminhonete e esperado o funcionário terminar o serviço.
A versão apresentada por ele é de que João Pinto chegou ao local, desceu de sua caminhonete com uma arma na cintura, fez ameaças e, em determinado momento, o manteve sob a mira de uma arma.
A dinâmica descrita por Elmar já havia sido questionada pela família em entrevistas anteriores, sob o argumento de que “não teria dado tempo” de tudo ocorrer como relatado.
O relatório da empresa HD Sat Rastreadores, referente ao dia da morte de João Pinto, mostrou que o carro da vítima parou por mais de um minuto apenas três vezes: no início do trajeto, ao abrir a porteira de sua propriedade e, depois, em frente ao hangar onde foi morto.
“Precisaria de mais do que um minuto para acontecer tudo isso que ele disse que aconteceu”, afirmou Gysela.
Entre outras supostas contradições citadas pela família em matérias anteriores do MidiaNews, está a perícia realizada no aparelho DVR que deveria conter as imagens da morte de João Pinto, mas apresentava registros apenas de antes e depois do crime. Além da alegação de Jeovanio de ter saído da cena para “procurar um local com melhor sinal” e informar o caso, mesmo havendo sinal de qualidade na região.
O caso
João Pinto foi morto no dia 23 de fevereiro, no hangar de sua propriedade, localizada na região do Contorno Leste, no Bairro Jardim Imperial, em Cuiabá. O autor dos disparos foi o policial civil Jeovanio Vidal Griebel.
Conforme um dos laudos da Politec, o atirador efetuou ao menos um disparo de arma de fogo a cerca de 12 metros de distância da vítima e fora do hangar em que o corpo foi encontrado.
João Pinto foi ferido na altura do ombro direito.
Jeovanio foi acionado pelo cunhado Elmar Soares Inácio, com quem João teria um litígio fundiário. Em uma viatura descaracterizada e sem mandado judicial, o policial foi até a propriedade acompanhado de outros cinco colegas.
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FONTE: MIDIA NEWS







