sábado, novembro 15, 2025

Tabu ainda afasta homens do consultório e atrasa diagnóstico, alerta médico | RDNEWS

Tabu ainda afasta homens do consultório e atrasa diagnóstico, alerta

Rodinei Crescêncio!Rdnews

Cuidar da saúde masculina ainda é um desafio para grande parte dos homens, especialmente quando o assunto envolve prevenção e diagnóstico precoce. Em entrevista ao , o urologista Valter Gouvêia explica que fatores culturais e educacionais contribuem para que muitos posterguem a ida ao consultório. O tabu em torno do exame de toque, embora persistente, vem perdendo força à medida que cresce a conscientização sobre a importância do Novembro Azul. Com foco na saúde integral do homem, o especialista também detalha os principais sintomas, formas de prevenção e mudanças de comportamento necessárias para reduzir riscos e ampliar a longevidade com qualidade.

Confira, abaixo, os principais trechos da entrevista

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Quais são as chances de cura quando o câncer de próstata é diagnosticado precocemente? 

O câncer de próstata, inicialmente, não dá sintomas. Quando dá sintoma, já está mais avançado. Por isso que o check-up, o rastreamento para câncer de próstata, é tão importante, porque as chances de cura, quando diagnosticado precocemente, são acima de 90%. Então, como nós fazemos o diagnóstico precoce? Através do exame de sangue, que é o PSA. A próstata repousa sobre o reto e tem uma fina camada. Pelo reto, a gente consegue apalpar a superfície da próstata, onde se concentram 80% dos tumores. Então, são acessíveis ao toque. Isso é importante, porque você consegue diagnosticar precocemente e ofertar um tratamento, a princípio, curativo.

Pablo Vicente/RD News

Urologista Valter Gouveia

Quem descobre o câncer tem histórico familiar ou não necessariamente?

Cerca de 10% dos tumores de próstata, dos cânceres de próstata, são hereditários e 90% não são. Então, o pai, o avô, tio, irmão, pode ter tido. Por isso, nesse grupo de pacientes, a gente fala para fazer o check-up aos 45 anos. De uma forma geral, na população, em geral, é com 50 anos. Há uma incidência maior em negros, não se sabe se é genética. Os estudos mais aprofundados são dos Estados Unidos. Lá a incidência nos negros é quase o dobro do que nos brancos. Então, nessa população, o ideal é começar a fazer o check-up aos 45 anos.

Essa incidência também ocorre aqui no Brasil?

Aqui é mais difícil identificar, porque nossa população é mais miscigenada. Então, os estudos mais robustos são de outros países.

O comportamento mudou bastante nas últimas duas décadas. Antes eles vinham quase amarrados. Hoje em dia, já têm um pouquinho de consciência

Quem são os pacientes que vêm te procurar? Eles vêm porque um familiar, por exemplo, a esposa obrigou, ou porque querem?

O comportamento mudou bastante nas últimas duas décadas. Antes eles vinham quase amarrados. Hoje em dia, já têm um pouquinho de consciência. A grande maioria já é paciente antigo meu, que vem por indicação de outros. E ainda tem uma parcela em que as mulheres acabam fazendo com que o marido, o pai, o filho, vá ao urologista. Porque o homem tem o problema de achar que é o super-homem, ele tem medo de ir ao médico,  tem medo do exame prostático, de descobrir alguma doença.

E de onde você acha que vem isso dos homens? Porque não é só em relação à urologista, isso se aplica também às outras áreas da medicina. 

Eu faço sempre um paralelo: as mulheres, desde a adolescência, já vão ao ginecologista. Isso já é cultural, um hábito de 40 anos, 50 anos, a mulher já vai para diversas coisas desde pequenininha. O homem não tem o mesmo hábito de ir desde menino ao médico. Ele sai do pediatra e já vai direto para o geriatra, só no final da vida ele vai. Eu acho que isso é algo social, que a sociedade mesmo impôs e o homem, provedor da família, tem medo, enfim, tem algo mais filosófico por trás disso tudo.

Os sintomas do câncer de próstata vão aparecer depois desse estágio inicial. Então, quando ele começa a aparecer e quais são esses sintomas? 

O tumor de próstata, diferente de outros tumores, tem um crescimento bem lento. Um tumor de testículo duplica em 15 a 30 dias. O de próstata leva uns dois anos, na grande maioria das vezes, tem algumas exceções. O tumor pra começar dar sintomas mais graves, de uma forma geral, são 10 anos, quando já está espalhado. Mas há tumores que são mais agressivos. 

Qual é o tempo regular que o homem tem que estar se monitorando?

Uma vez por ano, ele tem que fazer os exames. Isso tem que ser a partir dos 45 anos se tiver histórico familiar ou for negro a partir dos 50 anos na população em geral.

Em relação ao tratamento, quais são as sequelas?

As consequências mais temidas são a incontinência urinária e a impotência sexual, a disfunção erétil. Isso porque do lado da próstata passam as inervações, que são os nervos da ereção. Antigamente, quando nós fazíamos cirurgia aberta, tínhamos uma noção do que ele passava ali. Agora, pelo robô, nós conseguimos até mesmo ver, são bem finos, como um fio de cabelo, e tentamos preservar a ereção do paciente. Como na cirurgia robótica a câmera fica bem maior do que uma visão natural, é possível preservar mais a uretra. Com isso, o paciente tem menos chance de ter incontinência urinária.

Quando termina o tratamento do câncer, os pacientes conseguem manter uma vida sexual ativa?

A grande maioria, sim. 

Pablo Vicente/RD News

Urologista Valter Gouveia

O senhor já tinha falado sobre essa resistência dos homens de procurar os médicos. Mas por que tem tanta resistência, principalmente com o exame de TOC? 

Isso daí é algo também num plano mais profundo da própria sociedade machista e o homem se vê vulnerável diante de uma possível doença e com o próprio exame. Mas isso tem também um outro lado. Tem muitos homens que eu tenho visto nos últimos anos que ele fala ‘mas o senhor não vai fazer o exame do TOC em mim?’ porque ele sabe que aquele exame é importante para sair do consultório tranquilo, falando. 

Mas dói esse exame? 

Não dói. Ele dura dez segundos.  Rápido, barato, custa uma luva, uma xilocaína.

Qual mensagem o senhor daria para quem tem medo de ir até o urologista? 

Nós temos duas formas de prevenção, a primária e a secundária. A secundária é esse check-up de próstata, que o paciente já tem um tumor bem no comecinho. Nós fazemos o diagnóstico, damos a opção do tratamento e o paciente fica curado e segue a vida dele. 

Agora, tem a prevenção primária, talvez seja até mais importante, não só para esse tumor, mas para diversas doenças, que é o estilo de vida. O homem tem que ter um estilo de vida mais saudável, diminuir a ingestão de bebida alcoólica, tabagismo, a obesidade é um fator de risco para diversas doenças. Comida gordurosa, principalmente carne vermelha gordurosa, está fortemente associada a câncer de próstata em específico. O paciente tem que fazer uma atividade física, uma academia, isso é importante. Como eu disse anteriormente, 90% dos tumores são adquiridos. 

FONTE: RDNEWS

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