Na última eleição geral 2022 políticos conhecidos como Sônia Guajajara, Tarcísio de Freitas e o astronauta Marcos Pontes tiveram apontamentos de irregularidades no uso do recurso do fundo eleitoral e a prestação de contas foram aprovadas com determinação de devolução de recursos. Estamos falando das irregularidades com a aplicação de recursos públicos. Dois casos de candidatos conhecidos a Câmara Federal resultaram em perdas de mandatos; Deltan Dallagnol, eleito deputado federal pelo Paraná e Marcelo Crivella, eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro. A maioria dos deputados que enfrentaram problemas com a justiça eleitoral, estão ainda confortavelmente exercendo seus mandatos, embora a fiscalização e a cultura democrática tenham se fortalecido e o eleitor bem-informado passa a acompanhar o comportamento público dos políticos, cujas reputações podem ser destruídas em horas.
O eleitor brasileiro, durante muito tempo, passou a mão na cabeça de políticos controversos e violentos, envoltos em uma imagem de dualidade entre mistério e realidade. Vindo de Alagoas, Tenório Cavalcante foi deputado estadual e federal pelo Rio de Janeiro. Figura emblemática, trajava sempre uma capa preta, indispensável para cobrir a metralhadora que sempre portava e carinhosamente a chamava de ´Lurdinha’. Sob o pretexto de proteger os pobres e a rede de distribuição de comida e remédios, criou grupos de justiceiros e teve o nome ligado a execuções sumárias de adversários políticos e extorsão. Continuou se elegendo deputado estadual por três mandatos consecutivos, do final da década de 1940 até final de 1950. Depois elegeu-se deputado federal. Perdeu a eleição ao governo do estado do Rio de Janeiro. Após doze anos sendo denunciado por chefiar grupos ligados a execuções, o coronel urbano Tenório Cavalcante foi retirado da cena política e entrou em declínio.
“As transgressões continuam, transmutadas em transgressões simbólicas de comportamento, de elogio à vaidade e resvala na falta de decoro”
Olga Lustosa
Outro caso escandaloso de personalidade violenta e controversa dentro do sistema político brasileiro surgiu nas eleições de 1994, com Hildebrando Pascoal, um Coronel da Polícia Militar do Acre, que foi eleito deputado federal, mesmo com conexão conhecida com organização criminosa e um grupo de extermínio. As denúncias de tortura, tráfico de drogas, execução de rivais, que aconteceram exatamente no exercício do mandato de deputado federal, como o caso de um homem que testemunhou contra ele e teve partes do corpo amputadas pelo próprio deputado, empunhando uma motosserra, chegaram a Brasília e a Câmara dos Deputados abriu uma CPI para apurar os casos e ainda assim, no auge das denúncias se elegeu deputado estadual pelo Acre. A Assembleia Legislativa do Acre cassou seu mandato e o deputado da motosserra foi preso condenado a mais de 100 anos de prisão.
No cenário atual, as transgressões continuam, transmutadas em transgressões simbólicas de comportamento, de elogio à vaidade e resvala na falta de decoro, como aconteceu com o candidato a prefeito de Brasnorte, que teve um vídeo íntimo vazado no período da campanha, o que lhe rendeu prejuízo pessoal e político. Para celebrar o que ele chamou de ´nova cara da política`, o prefeito de Canhoba (SE) publicou nas suas redes sociais um ensaio fotográfico onde aparece apenas de cueca preta. E cueca na política brasileira remete ao caso do Senador Chico Rodrigues, flagrado com dinheiro na cueca.
A prefeita de Marituba (PA) dançou forró de calcinha e sutiã e postou, justificando que a mulher pode ser trabalhadora, mãe, política e bonitinha. Roupa íntima para o convívio com os íntimos. A prefeita ameaçou processar quem repostou seu vídeo sexy, o STJ, no entanto entendeu que se o próprio político posta a imagem, está renunciando à expectativa de privacidade e tem que suportar os ataques e uso amplificado da imagem.
Ao findar este artigo, li sobre a prisão do ex-presidente Bolsonaro. Não comento decisões judiciais por absoluta falta de competência. Sou socióloga. E assim, sem recorrer a achismo, entendo que manifestações de defesa do ex-presidente em mídias sociais não ajuda muito. O que de fato, estão fazendo o partido e correligionários junto ao Judiciário sobre o julgamento e cumprimento da pena é o que conta. Prisão é problema da Justiça. Não há o que comemorar e causa desconforto enorme lembrar que, no atual período democrático brasileiro dos seis presidentes apenas Fernando Henrique Cardoso e Dilma não foram presos.
Olga Lustosa é socióloga e cerimonialista pública. Escreve com exclusividade para esta coluna aos domingos. E-mail: olgaborgeslustosa@gmail.com
FONTE: RDNEWS








