Paiaguá, Pinta Comprida, Kugaru, Tchuva, Marruá, Tarumã, Aurora, Barão e Celeste: com nomes inspirados na língua da etnia Bororo, no linguajar poconeano e em elementos da natureza que remetem ao Pantanal, estas e outras 30 onças-pintadas que residem na Reserva Particular do Patrimônio Natural do Brasil, localizada em Barão de Melgaço (109 km de Cuiabá), são as protagonistas do “Guia de Identificação das Onças-Pintadas da RPPN Sesc Pantanal”. A cartilha, divulgada no último dia 29, além de trazer em suas páginas parte dos maiores felinos das Américas, integra também um outro projeto em parceria com o Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com participação do Grupo de Estudos em Vida Silvestre, da Fiocruz e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Pablo Vicente e Kethlyn Moraes/Rdnews
Atualmente, as onças-pintadas são consideradas vulneráveis à extinção no Brasil pelo Ministério do Meio Ambiente, e, segundo o guia, seguem sendo ameaçadas pela perda de habitat, caça, atropelamentos e conflitos com seres humanos. Outro problema que assombra os felinos são os calores extremos e a possibilidade de fogo, como foi com Timbó, onça avistada entre 2020 e 2023, que perdeu parte da orelha direita em 2022, devido à seca. O manual, no entanto, explica que não se sabem ao certo as causas exatas do ferimento. Timbó foi registrado ainda como parte de uma coalização com outra onça: Cambará.
Avistado em 2023, Cambará recebeu este nome por ser uma das onças mais amarelas já vistas na região. Sua identificação homenageia uma árvore de mesmo nome, dotada de belas flores amarelas. Cambará e Timbó dividiram, além do território, uma parceira, a onça Aroe, também presente da reserva. Mãe dos filhotes machos Acuri e Majestade e de um filhote ainda não identificado nascido em 2023, a fêmea foi registrada pelas câmeras durante os períodos entre 2021 e 2023. Sua nomeação tem um significado único: segundo o povo Boe Bororo, Aroe é o nome dado à alma que, após a morte, passa a habitar o corpo de um animal.
Kethlyn Moraes/Rdnews – Fonte: Sesc Pantanal

Assim como Aroe, o macho Niti Cáre também compartilha de uma nomeação com um significado especial, já que seu nome quer dizer “Menino bonito” em Bororo. Ele foi o primeiro felino da reserva a ser monitorado com um colar de GPS durante sete meses em 2022. Seu último registro aconteceu no mês de outubro do mesmo ano. Niti Cáre foi ainda um dos três parceiros da fêmea Flora, registrada entre os anos de 2021 e 2023. Seu nome significa o conjunto de todas as espécies de plantas que habitam uma determinada região. Em seu caso, especificamente, o Pantanal.
Flora se relacionou ainda com Peabiru — cujo nome é uma referência à rede de trilhas que ligava a Cordilheira dos Andes ao Oceano Atlântico antes da colonização, passando pelo Pantanal, e se dá devido à sequência de manchas dorsais que ele possui, que lembram caminhos conectados — e com Itúra, nome que, de acordo com os Boe Bororo, significa ambientes de mata.
Galeria: Veja as características de algumas das onças-pintadas monitoradas
Apesar de a maioria das onças no guia estarem sendo apresentadas ao público agora, poucos meses atrás três personagens do livro experimentaram uma interação muito especial com os internautas que acompanham o trabalho realizado pelo Sesc Pantanal nas redes sociais: Aurora e suas filhotes Celeste e Tchuva tiveram seus nomes escolhidos a partir de uma votação online. À época, a bióloga e gerente-geral do Polo Socioambiental Sesc Pantanal, Cristina Cuiabália, reforçou que incluir o público no processo de escolha era uma forma de fortalecer a conexão com a causa ambiental.
“Caçadoras de emboscadas”
Entre as características que garantem às onças o título de “caçadoras de emboscada”, segundo a cartilha, está a sua mordida, que é considerada a mais forte entre os felinos. O manual cita também que, apesar de ser estritamente carnívora, a dieta dos felinos é muito variada, preferindo animais de porte médio e grande, como jacarés e porcos-do-mato.
Cedida por RPPN Sesc Pantanal

Conforme a cartilha, os felinos pintados andam geralmente solitários e eventualmente são avistados juntos, no momento do acasalamento ou das coalizões, uma associação social de curta duração, geralmente entre dois machos aparentados — como irmãos, por exemplo — que cooperam em certas atividades. Segundo os pesquisadores, um dos conflitos acontece justamente no momento da maturidade, pois, ao se dispersarem para áreas distantes de onde nasceram e cresceram, as onças se aproximam de habitações humanas e podem até se alimentar de animais domésticos, como o gado bovino.
De acordo com o guia, desde a criação da reserva, o trabalho para registrar e monitorar os animais vem acontecendo. O arquivo, que já conta com mais de 300 mil vídeos feitos a partir de 165 “câmeras armadilha”, relata o dia a dia e comportamento das onças que ali escolheram como seu habitat. Podendo ser identificadas a partir de uma combinação única de manchas e pintas em sua pelagem, que funcionam como as impressões digitais de humanos, cada um dos felinos avistados pelos pesquisadores do projeto possui um padrão distinto
Cedida por RPPN Sesc Pantanal

Identificar e monitorar o comportamento das onças-pintadas é também uma forma de cooperar, de maneira ativa, com a sua preservação, entender o seu comportamento e construir um ambiente mais saudável à sua existência, como esclarece o documento, que enxerga a pesquisa como uma “ferramenta essencial para proteger o Pantanal”.
– Veja a cartilha completa aqui neste link.
FONTE: RDNEWS







