O dono do Banco Master, Daniel Vorcaro, doou um apartamento de R$ 4,3 milhões na região da Faria Lima, em São Paulo, para uma influencer que é ré por lavagem de dinheiro e que diz ser “sugar baby” —jovens que se relacionam com homens mais velhos em troca de benefícios financeiros.
Karolina Trainotti, 29, que recebeu a doação, foi denunciada em 2023 por lavagem de dinheiro em favor de Rowles Magalhães, réu por tráfico internacional de cocaína.
Segundo o Ministério Público Federal, Karolina foi “destinatária dos recursos de origem criminosa que Rowles pretendia omitir”. No total, recebeu R$ 271 mil, entre 2020 e 2021.
Nos autos, Karolina disse que é inocente e que recebeu o dinheiro por ser “sugar baby” de Rowles. Desde abril do ano passado, o advogado que a defende no processo criminal é Eugênio Pacelli, que também atua para Vorcaro em algumas ações.
A doação do apartamento, localizado em um prédio de luxo, foi oficializada em dezembro de 2024. Na escritura de doação, não é mencionado o nome do banqueiro. Karolina mora no imóvel.
Karolina tem 34 mil seguidores no Instagram, onde exibe viagens frequentes para roteiros de luxo, nacionais e internacionais, como Sardenha, na Itália, e Míconos, na Grécia.
O UOL procurou Karolina por telefone e no apartamento, mas ela não respondeu. O advogado Pacelli disse que ela não iria comentar a doação do apartamento.
Vorcaro e seus advogados foram procurados, mas não responderam.
O banqueiro foi preso preventivamente em novembro, suspeito de fraude em uma transação de R$ 12 bilhões com o BRB (Banco de Brasília). Foi solto 12 dias depois por decisão de uma juíza do Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Imóvel de alto padrão
O apartamento doado para Karolina fica no 37º andar, o penúltimo de um dos prédios mais altos da região da Faria Lima, centro financeiro do país. Está localizado a poucos minutos a pé do Banco Master e do shopping JK Iguatemi.
O imóvel tem 113 m² de área privativa e 231 m² de área útil. São três vagas na garagem, com manobrista.
O espaço de lazer tem piscina com borda infinita voltada para a avenida Juscelino Kubitschek, uma segunda piscina aquecida e coberta para prática de natação, academia, sala de pilates, cozinha gourmet, área para cabeleireiro e salas de reunião.
O apartamento foi adquirido em 2020 por uma empresa de Vorcaro, a Viking Participações.
Em 2024, o imóvel foi transmitido à Super Empreendimentos e Participações, uma sociedade anônima fechada —tipo de empresa na qual os sócios ficam sob sigilo.
A Super é dona da casa de Vorcaro em Brasília, de R$ 36 milhões, e do apartamento onde o banqueiro vive em São Paulo, também na região da Faria Lima, de R$ 50 milhões. Um cunhado de Vorcaro foi o diretor da Super por quatro anos.
Processo por lavagem de dinheiro
A denúncia por lavagem de dinheiro contra Karolina corre na Justiça Federal da Bahia. No âmbito do mesmo processo, Rowles responde por tráfico internacional de cocaína, do Brasil para a Europa, por meio de jatos executivos.
Dos R$ 271 mil recebidos por Karolina, pelo menos R$ 130 mil foram pagos pelo esquema dólar-cabo, segundo a denúncia do Ministério Público Federal.
Primeiro, Rowles transferia valores em euro para uma conta ligada a um doleiro. A moeda estrangeira era obtida “com o tráfico de cocaína na Europa”, diz a denúncia. Em seguida, o doleiro repassava o valor convertido para reais para a conta de Karolina.
Em depoimento, o doleiro explicou como funcionava o esquema: “O Rowles chegava pra mim e falava eu tenho 50 mil dólares e eu quero receber em real, quanto é que fica?”. Depois, “ele chegava e passava as contas da família dele (…) e da amante, que era a Karolina”.
Em outubro de 2020, por exemplo, Rowles escreveu para o doleiro: “vou precisar fazer alguma coisa”. O doleiro perguntou “quanto” e Rowles respondeu: “uns 15 mil daí”. Rowles transferiu o valor em euro. No mesmo dia, o doleiro depositou R$ 15 mil na conta de Karolina.
Após quebra de sigilo de Karolina, a investigação identificou ainda outros repasses do doleiro, somando mais R$ 141 mil.
“A forma como as transações foram realizadas não deixa dúvida acerca da intenção de ocultação da origem, localização, disposição, movimentação e propriedade de valores oriundos do tráfico internacional de drogas, de modo que chegassem aos denunciados e às pessoas a eles relacionadas sem que fosse possível rastrear a origem criminosa dos recursos”, diz a denúncia.
Em sua defesa, Karolina alegou que recebia uma “mesada” de Rowles como “sugar baby”, mas não tinha conhecimento de eventuais atividades ilícitas.
“Sua inclusão nas investigações deu-se apenas por sua condição de sugar baby de um dos corréus, tendo os seus gastos pessoais sido por ele custeados no período do relacionamento amoroso”, diz peça de defesa do advogado Pacelli.
“[Karolina] nunca soube do suposto tráfico de drogas imputado aos corréus” nem “teria ou teve razões para suspeitar de qualquer ilegalidade por parte do corréu Rowles, com quem manteve relação amorosa por um período, durante o qual viveu praticamente às expensas dele”.
FONTE: Folha Max








