O conflito é inerente à democracia. Muitos teóricos políticos, a exemplo da filósofa alemã Hannah Arendt argumentam que a democracia envolve inerentemente desacordo e o choque de interesses conflitantes. Suprimir o conflito pode mascarar desequilíbrios de poder e silenciar a necessária luta política, potencialmente servindo aos interesses daqueles que já estão no poder. Quando o silêncio se torna conveniente demais, significa que a pluralidade não está sendo expressa e a cientista política belga Chantal Mouffe, considera que não há necessidade da busca excessiva por consenso e que a democracia não elimina o confronto, ela o civiliza.
“Em nosso estado, o momento apropriado para o confronto está sendo empurrado para frente o máximo possível. A ideia é que “ainda não é hora para o confronto.” Ainda não estamos no momento: “ou você está conosco ou está contra nós.” O tempo de maturação, de arranjos políticos, análises dos riscos e convencimento está no ar.”
O contexto importa: em nosso estado, o momento apropriado para o confronto está sendo empurrado para frente o máximo possível. A ideia é que “ainda não é hora para o confronto.” Ainda não estamos no momento: “ou você está conosco ou está contra nós.” O tempo de maturação, de arranjos políticos, análises dos riscos e convencimento está no ar. E esse tempo possibilita vivenciar incríveis revelações, sobretudo de políticos mais experientes. Um prefeito com quem conversei essa semana, demonstrou a flexibilidade e contradição que está havendo na construção das candidaturas: aliado de um tradicional político do estado, é filiado a um partido que não é o do padrinho político e apoiará firmemente e publicamente o processo de reeleição de um deputado de linhagem política e partido que não tem nada a ver com as duas situações citadas.
Há planos A, B e outros que avançam sem confirmações para não serem pegos de surpresa e para não gerar desconforto se não se consumarem. É uma posição de estratégica que reconhece tanto os riscos quanto as potenciais necessidades do confronto político mais na frente. Nos Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio, Maquiavel nos ensina que postergar confrontos políticos costuma ser um erro estratégico, que o conflito e o confronto são valiosos instrumentos políticos e o político deve estar vigilante para não perder o tempo certo de enfrentar o adversário, de fortalecer sua posição e não frustrar a própria base, embora seja muito comum a crença que não brigar preserva o capital político. Sobre esse pensamento, tem-se dito que na política, quem tenta agradar a todos, perde o respeito de todos.
No tempo certo, é essencial escolher quais confrontos comprar e quais evitar para consolidar a imagem de comando. Essa foi a estratégia da política alemã Angela Merkel, que diante das várias eleições que disputou raramente entrou em confrontos e adiava ao máximo entrar em campanha porque se colocava como uma líder acima de qualquer disputa, fazia campanhas curtas, econômicas porque considerava sua autoridade já consolidada. Isso é para poucos, no Brasil, comportamento semelhante teve Fernando Henrique Cardoso, convencido que sua personalidade já bastava para torná-lo um estadista.
A discordância e a dissidência construtivas são vitais para o bom funcionamento de grupos e sociedades, elas podem servir como um mecanismo de autonomia e equilíbrio dentro dos picos historicamente altos de polarização que estamos vivenciando. A consistência ideológica partidária está fluída pela diversidade de opiniões dentro dos partidos em diferentes questões políticas e rigidez nenhuma com membros que exibem comportamentos desviantes. O discurso ainda está claramente dúbio entre um e outro lado e a expectativa de afirmações de candidaturas majoritárias entra para 2026, num silêncio, diria, estratégico, sem grande cobrança de alinhamento.
FONTE: RDNEWS







