segunda-feira, outubro 27, 2025

Meninas de até 11 anos são a maioria das vítimas de estupro, revela Sesp | RDNEWS

Ilustração/Metrópoles

Meninas de até 11 anos de idade foram as maiores vítimas de violência sexual em Mato Grosso durante 2023, aponta levantamento feito pela Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp). Segundo a delegada Jannira Laranjeira, coordenadora de Enfrentamento à violência contra a mulher e vulneráveis da Polícia Civil, o principal abusor é o pai ou o padrasto.

Conforme os dados, ao qual o teve acesso, de janeiro a dezembro do ano passado, no Estado, foram registradas 1.881 denúncias de estupros de vulnerável, que é o abuso sexual cometido contra menores de 14 anos, pessoas com deficiência ou indivíduos que não têm como oferecer resistência por qualquer motivo (embriaguez, entorpecimento, entre outros).

Das 1.881 vítimas, 1.055 delas têm entre 0 e 11 anos, ou seja 56%, ou a maioria das vítimas. Entre as idades de 12 a 17, foram 699. Da faixa etária dos 18 a 24 foram 50. Depois disso foram 17 registros com vítimas entre 25 a 29 anos. O número reduz para 11 registros na faixa dos 30 a 34 anos e volta a aumentar para 41 denúncias entre os 35 a 64 anos. No grupo acima de 65 anos foram 3 registros.

O levantamento também mostra o número de estupros, quando a vítima não é tida como vulnerável, no Estado. Na faixa dos 14 aos 17 anos, foram 194 ocorrências. Entre as idades de 18 a 24, foram 161, dos 25 a 29 anos, são 67 denúncias. O número reduz para 40 entre os 30 a 34 anos de idade e volta a aumentar nas idades de 35 a 64 anos para 143 denúncias. Já acima dos 65 foram 13 registros. Veja na tabela abaixo

Rodinei Crescêncio/Rdnews

Casos de estupro em Mato Grosso

A violência sexual contra crianças virou o centro dos debates após a polêmica do Projeto de Lei 1.904/2024, conhecido como “PL do Aborto”, que equipara o aborto realizado após 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples, inclusive nos casos de gravidez resultante de estupro.

O requerimento do PL, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), foi aprovado em regime de urgência na Câmara dos Deputados e contou com a assinatura de 32 parlamentares. Os projetos com urgência podem ser votados diretamente no Plenário, sem passar antes pelas comissões da Câmara.

Vítimas sem entendimento

Em entrevista ao , a delegada Jannira Laranjeira, afirma que crianças entre os 0 e 11 anos quase nunca tem o entendimento de que sofreram violência sexual, até mesmo no momento da denúncia.

“Elas não têm noção do que é. Elas usam termos como: ‘fulano mexeu comigo’, ‘mexeu nas minhas partes’. Elas só vão ter noção sobre o que aconteceu quando crescerem”, salienta.

Rodinei Crescêncio/Rdnews

delegada Jannira Laranjeira

Delegada Jannira Laranjeira conta que existem casos chocantes de abuso contra criança e a escola é peça fundamental porque ajuda na descoberta

Ainda segundo a delegada, geralmente os pais levam a criança até a delegacia e denunciam o crime. Ela conta que, a partir desse momento, as vítimas, a partir dos 6 anos de idade, passam por escuta especializada, onde a vítima relata o que aconteceu. “Essas escutas têm viés de proteção. A gente escuta o que ela tem para dizer”, explica.

A delegada revela também que a maioria dos abusadores estão dentro da própria família. “O principal pai é o pai ou o padrasto. Nós ainda estamos naquela cultura de ensinar nossas crianças a não conversar com pessoas desconhecidas e ainda insistimos que peçam benção, sentem no colo, tratem com beijos e abraços uma pessoa adulta”, salienta.

“Temos que começar a ver os sinais. Sempre que a gente ver que a criança está com mudança de tratamento, resistência da criança a se aproximar com algum familiar, os pais não podem interpretar como uma falta de educação, ou resistência da criança, mas entender que pode estar acontecendo algo de errado, que ela está sofrendo algum assédio sexual, está sofrendo algum tipo de violência”, explica.

Casos são chocantes

Um dos casos que mais chocou a delegada, aconteceu recentemente, em uma comunidade de Mato Grosso. Ela relatou ao que estava realizando uma palestra de conscientização com crianças de uma escola, quando uma jovem de 17 anos se aproximou dela após o evento e contou sobre os abusos.

“Ela me procurou, chorava muito e relatou que vinha sendo abusada sexualmente desde os 7 anos pelos pais e os tios. O que mais chocou foi quando eu fui conversar com uma diretora e ela contou ‘é por isso que fulana é uma menina introspectiva, zangada, fechada’”, conta.

Ainda conforme Jannira, a mãe da menina costumava viajar da comunidade para Cuiabá e passar algumas semanas fora. Nesse período, a adolescente virada uma espécie de ‘esposa’ do pai. “A comunidade conhece a história, mas nenhuma providência foi tomada. Ela me contar sobre isso, foi muito chocante”, salienta.

“Ela já tinha contado para a mãe dela, e a mãe, evangélica, dizia que ela tinha que apenas perdoar (o pai)”.

“O que livrou ela de tirar a própria vida, foi um rapaz com quem ela estava se relacionando e conversava pelo celular. Isso me chocou”, termina a delegada.

Segundo a autoridade policial, um relatório foi feito por ela após os relatos e repassado para a Polícia Civil, que deve investigar o caso. (Com informações da Agência Câmara)

FONTE: RDNEWS

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