terça-feira, dezembro 3, 2024

8 a cada 10 homens mortos por armas de fogo so negros, diz pesquisa

 

Homens negros têm três vezes mais chances de morrerem por disparos de armas de fogo do que os brancos. Em uma década, de 2012 a 2022, 79% das vítimas de homicídio do sexo masculino eram negras.

Os dados são baseados em levantamentos do Ministério da Saúde e integram o relatório “Violência Armada e Racismo: o papel da arma de fogo na desigualdade racial”, divulgado na manhã deste terça-feira (20) pelo Instituto Sou da Paz.

De 2012 a 2022, cerca de 38 mil homens foram mortos baleados, sendo a faixa etária de 20 a 29 a mais atingida por esse tipo de crime, com 43% dos casos. Vítimas com idades de 30 a 59 anos somam 40%.

O relatório chama a atenção para a desigualdade racial nos conflitos armados e aponta a região Nordeste como a mais violenta, com 57,9 mortes desse tipo por 100 mil homens, seguida pelo Norte, com taxa de 49,1, Sul (23,2) e Sudeste (16,1).

Em relação aos conflitos armados não letais, em que há disparos sem mortes, Norte e Nordeste também aparecem no topo —80% das vítimas são homens negros.

Há ainda destaque para o local onde a maioria das mortes ocorreu. As vias públicas concentram 50% dos casos de homicídio por armas de fogo, o que aumenta a sensação de insegurança por se tratar de crimes visíveis à maioria da população.

De acordo com Cristina Neme, coordenadora de projetos do Instituto Sou da Paz, a maior vitimização de homens negros por disparos de armas de fogo está ligada à maior vulnerabilidade social. “Ainda que a população negra seja mais da metade da população brasileira, esse quadro não foi revertido. E a vitimização por violência agrava esse quadro”, diz.

Para ela, a violência afeta, por exemplo, o acesso dessa população à educação, principalmente, nas periferias das grandes cidades. “Tudo isso é prejudicado pelos conflitos armados.”

As grandes cidades que costumam reunir o maior número de ocorrências de mortes por armas de fogo têm dado lugar no topo desse ranking aos municípios pequenos e médios, com até 500 mil habitantes. O relatório apontou que essas localidades representam 60% dos casos.

A coordenadora do instituto explica que os estados do Nordeste passaram por um aumento da violência na última década como resultado da expansão das facções criminosas e da violência armada para conquistar novos territórios. “Não vou dizer que é o único fator, mas é um fator importante que acaba submetendo essas populações a esse risco de violência e a essa alta mortalidade”, diz.

Segundo ela, relatório recente do Ministério da Justiça apontou a atuação de 88 facções no país, que passaram a disputar espaços e territórios para expandir seus negócios. “Isso afetou drasticamente a vida dessas comunidades”, continua.

 

FONTE: Folha Max

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