Assessoria
Luciano Vacari
O presidente americano Donald Trump está dando uma verdadeira chacoalhada no tabuleiro geopolítico mundial, não é mesmo? Oras, em pouco mais de seis meses seus feitos são dignos de uma série da Netflix, com direito a vários episódios, e quem sabe até temporadas. De largada, ameaçou de invasão o vizinho Canadá, fez coro de tomar na mão grande o canal do Panamá, teve a ideia genial de montar resorts de luxo na Faixa de Gaza, chantageou o mundo todo com tarifas nas importações, entre outras pérolas.
Mas entre poucos avanços e muitos recuos, nas últimas semanas Trump resolveu mirar seus canhões para o Brasil, dá para acreditar? Justo o Brasil, que sempre foi tão ordeiro, gente boa, aquele que nunca arrumou confusão com ninguém. Pois é, entramos na mira dos americanos — ou melhor, do presidente norte-americano. E caso ele não recue, a partir de 1º de agosto, produtos brasileiros terão que pagar um pedágio de 50% de taxa, ou seja, inviabilizou totalmente o comércio que já existe há 200 anos.
“Chegou a hora de endurecer o discurso e a estratégia, porque vamos continuar produzindo — e incomodando — cada vez mais”
Mas qual o motivo de toda essa ira?
Alguns dizem que o problema é político, ou seja, que a justiça brasileira vem perseguindo politicamente alguns de seus aliados. Outros dizem que o problema é comercial, que os produtos brasileiros como café, laranja, carne bovina, aço e aviões, por exemplo, competem injustamente com os produzidos pelos Estados Unidos. Outra turma já acha que o problema é o tratamento que o Brasil vem dando às big techs, as gigantes da tecnologia, como a Meta, Amazon e Apple. Ainda há quem diga que o problema é o Brics, que este alinhamento entre seus membros estaria incomodando o Tio Sam. Ainda temos o Pix e, por último, as terras raras.
Afinal, por que os gringos estão tão incomodados? Motivos, segundo eles, são vários.
Mas a grande pergunta é: os motivos são legítimos?
Legítimos ou não, o fato é que, de uma maneira ou de outra, isso vai mexer profundamente com a economia brasileira. Milhares de empregos serão perdidos, e bilhões de reais passarão de receita para prejuízo. É a hora de negociar.
E fica uma grande lição: o Brasil não pode mais ser o simpático da mesa. O país precisa estar preparado técnica e politicamente para estes embates. Afinal, defender o interesse e a soberania de seu povo é crucial.
E sim, incomodamos muito. Além de terras raras, temos aqui terras férteis, que fizeram do Brasil o maior produtor de alimentos, fibras e energia do planeta — e isso incomoda muito. Somos grandes produtores de petróleo. E o que dizer do nosso etanol?
Talvez esse seja o motivo de tanta raiva dos americanos: nosso potencial produtivo. Compramos muito da China, e vendemos muito para a China. Compramos e vendemos muito para a Índia, para a União Europeia, e mesmo assim mantemos ótimas relações diplomáticas com todos.
Chegou a hora de endurecer o discurso e a estratégia, porque vamos continuar produzindo — e incomodando — cada vez mais. Já tivemos guerra santa, guerra do petróleo, guerra por tomada de território. Alguém aí acha que não vai acontecer uma guerra por conta de comida?
Luciano Vacari é gestor de agronegócios e CEO da NeoAgro Consultoria
FONTE: RDNEWS