quarta-feira, agosto 6, 2025

Vagas em plataforma foram gatilho de cobrança por hospedagem na COP30: site agora tem casas e motéis com diárias a partir de R$ 1,1 mil


Plataforma do governo federal promete estadias mais baratas
Reprodução
A qualidade e o preço das vagas oferecidas pelo Brasil na plataforma de hospedagens para a COP 30 foram o gatilho para as cobranças apresentadas em uma reunião de emergência na Organização das Nações Unidas (ONU) na semana passada. Os quartos de motéis ou casas com camas de casais compartilhados mostrados na plataforma foram o estopim da reclamação das delegações.
Segundo a Secretaria Executiva da COP30, a plataforma foi divulgada no início de julho com 2,5 mil leitos para os 196 países signatários para poderem fazer reservas. É comum nas COPs haver uma plataforma oficial, mas no Brasil ela se tornou ainda mais aguardada diante da dificuldade que se tinha com hospedagens, com poucos hotéis na cidade.
Mais de um mês após ser divulgada reservadamente para países membros, o site agora aberto para o público geral tem casas e motéis com diárias a partir de R$ 1,1 mil. O valor ainda está acima do orçamento de alguns países. Apesar dos esforços em nível federal, a própria organização admite os desafios e já admitiu pedir que a ONU aumente os subsídios para garantir a participação de países em desenvolvimento.
A plataforma é defendida pelo governo brasileiro como a melhor opção para preços mais baixos. Além dela, a maioria das vagas segue em sites privados. O governo brasileiro tornou pública a existência da plataforma após a cobrança pública realizada por Richard Muyungi, presidente do Grupo Africano de Negociadores (em entrevista à Reuters em 31 de julho). Ao anunciar o site, a Secretaria Executiva da COP30 divulgou que ele teria vagas a partir de US$ 200 e garantiu que Belém terá 53 mil leitos para uma expectativa de 50 mil visitantes.
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Entretanto, o tipo e o preço das acomodações disponíveis na plataforma são exemplo do que delegações, consultores e mesmo representantes de entidades brasileiras não esperavam a menos de 100 dias do evento:
leitos compartilhados em um mesmo quarto (seja em casas ou motéis);
exigência de tempo mínimo de 15 dias, sendo que nem todos os delegados precisam ficar o evento todo;
valores acima dos US$ 70 dólares que era o orçamento de países em desenvolvimento para cada diária;
localização afastada do Parque da Cidade, onde será o evento.
Países pediram retirada da COP30 de Belém por preços dos hotéis
O alto número de casas ofertadas na plataforma não surpreende a organização, que já contava que mais de 60% dos quartos disponíveis fossem em residências familiares esvaziadas para serem alugadas no evento. Dos 53 mil leitos prometidos pelo governo federal, 32 mil estão nesse tipo de acomodação. (Leia mais abaixo)
➡️ Nesta terça-feira (5), havia pouco mais de 700 acomodações disponíveis. O menor preço encontrado era de US$ 200 por diária. Este valor mais baixo era cobrado por motéis que foram transformados em hospedagens para o evento.
Existe hospedagem suficiente?
A proposta do governo federal ao anunciar a COP30 no Pará era realizar o evento entre os amazônidas, próximo à floresta. A iniciativa, no entanto, enfrentava um desafio: infraestrutura.
A expectativa é que Belém receba mais de 50 mil pessoas ao longo dos 15 dias de conferência. Vale lembrar que a última COP contou com mais de 60 mil participantes.
➡️ No entanto, a cidade não tem rede hoteleira para atender nem 10% da demanda. Segundo o sindicato de hotéis e pousadas, há 4 mil quartos em Belém. Na região metropolitana, o número é superior (18 mil), mas a distância até o local do evento é maior.
➡️ Para o governo federal, Belém tem hospedagem suficiente. Ao todo, seriam 53 mil leitos disponíveis, divididos em:
Hotéis na capital e região metropolitana: 14.547
Navios: 6 mil
Residências de temporada via imobiliárias: 10.004
Airbnb: 22.452
Ou seja, mais de 32 mil acomodações são casas. Isso representa 60% da oferta total.
Como funciona a plataforma
O governo havia prometido uma plataforma com acomodações desde o início do ano. Com atraso, a plataforma está no ar para o público geral desde 1° de agosto, mas esteve aberta aos países desde 1° de julho.
Ela foi liberada em duas etapas:
Na primeira etapa, a empresa cadastrou 2,5 mil quartos e encaminhou as propostas para os países signatários, com tarifas fixadas entre 100 e 600 dólares. Isso começou no dia 1° de julho e se seguiu ao longo do mês.
A medida, no entanto, não foi o bastante. No dia 30 de julho, depois de terem visto as possibilidades de acomodações, 25 países acionaram a ONU para uma reunião de emergência questionando o preço, tipo de acomodação e até se o país teria acomodações suficientes.
A segunda etapa, aberta ao público, com 2,7 mil quatros (o que representa cerca de mil imóveis) disponíveis na cidade. Nessa, não há uma limitação de valor. Nesta categoria, há imóveis sendo cadastrados todos os dias, segundo o governo.
Na plataforma, a maior parte dos quartos está em casas de famílias e motéis, que fizeram adaptações. No site, o governo justifica:
“Para complementar a limitada capacidade hoteleira em Belém, grande parte da oferta de acomodações consiste em apartamentos privativos disponibilizados especificamente para a COP30. Trata-se principalmente de residências familiares, temporariamente desocupadas pelos seus proprietários durante a conferência”.
Para alugar um quarto, ainda é preciso estar atento a algumas exigências, como a de locação por períodos mínimos que variam de 5 a 15 dias. Algumas organizações reclamam que isso é um impeditivo, já que não há outra opção além de ficar o evento todo.
O g1 conversou com pessoas que usaram a plataforma para locação. Apesar de ter uma fila de espera em alguns momentos do dia, eles dizem que ela funciona e há quem tenha conseguido acomodação. No entanto, o preço alto segue sendo uma reclamação.
No lançamento, o presidente da COP, André Corrêa do Lago, disse que o site reúne os menores valores que se foi possível encontrar.
Altos preços
No site, o menor preço encontrado é de US$ 200 por diária em apartamentos que acomodam apenas uma pessoa, que foram incluídos no início da tarde desta terça-feira. O tempo mínimo de hospedagem é de cinco dias. Com isso, o valor para o evento é de US$ 1 mil (cerca de R$ 5,2 mil).
Depois, os preços mais acessíveis estão com os motéis. Neles, a diária custa US$ 410, mas o tempo mínimo de contratação é de 15 dias. Com isso, o valor total para a COP chega a R$ 33,9 mil.
O quarto até acomoda duas pessoas, mas o que as organizações dizem é que eles não vão em casal, mas em pares. Assim, esse tipo de acomodação como dupla não é funcional.
Para Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, a plataforma não resolveu o problema. Ao estabelecer acomodações com apoio federal (como os navios) a preços elevados, o governo, segundo ele, ajudou a consolidar um padrão caro na cidade.
“Está impossível. Em dez anos indo para conferências nunca vi algo parecido com relação a preços. A plataforma, os navios, nada disso oferece acomodações que sejam acessíveis. O governo criou um padrão a US$ 600 e é isso o que as pessoas acham que podem cobrar. Isso está colocando em risco o evento”, explica.
Uma consultora internacional que tem ajudado delegações estrangeiras a encontrar hospedagem diz que a plataforma não tem sido útil, já que os preços continuam altos.
Vanessa Robinson conta que tem encontrado casas fora da plataforma, mas apenas após muito diálogo com os proprietários sobre o evento e sua importância.
“Faltou um diálogo com a comunidade, se o governo precisava tanto dessas casas, sobre o que o evento significa. A importância dele para a população depois. Eu estou fazendo um trabalho de educação para conseguir diárias de US$ 200”, explica.
Na próxima semana, o governo terá nova reunião na ONU para responder aos questionamentos dos países.
O que diz a organização
Segundo a organização, o plano de acomodação para a COP30 em Belém conta com múltiplas soluções para garantir o compromisso com a realização de uma conferência climática ampla, inclusiva e acessível.
No total, há 53 mil leitos mapeados em Belém e região metropolitana. Na última sexta-feira, 1/8, o governo brasileiro disponibilizou uma plataforma com 2.700 quartos para o público que vai participar da COP 30, por meio da plataforma: cop30.bnetwork.com.
A expectativa é que novos apartamentos sejam adicionados diariamente. Outros 2.500 quartos individuais já haviam sido disponibilizados aos países membros da UNFCCC, resguardando as necessidades de um grupo composto, em sua maioria, por Países Menos Desenvolvidos (LDCs) e Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (PEIDs).
Outra medida importante do governo brasileiro foi a contratação de dois navios de cruzeiro. Com isso, foram asseguradas. aproximadamente, 3.900 cabines com capacidade de até 6 mil leitos.
A plataforma está sendo atualizada diariamente, à medida que novas ofertas são cadastradas. O processo de inclusão envolve uma etapa de avaliação e capacitação — uma espécie de verificação para confirmar a existência e as condições do imóvel — antes da publicação na plataforma. Por isso, os números de ofertas disponíveis podem variar todos os dias.
O que é a COP e por que ela importa?

FONTE: Lapada Lapada

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