O delegado de Polícia Civil Bruno França, que investigou a chacina de mãe e filhas, em Sorriso, revelou em depoimento no julgamento do assassino Gilberto Rodrigues dos Anjos, nesta quinta-feira (7), que a frieza do réu no momento da confissão foi assustadora.
A gente já tinha certeza de que ele era o autor e agora a gente sabia que era um criminoso em série
O crime ocorreu no dia 24 de novembro de 2023, e foi descoberto três dias depois. Gilberto trabalhava como pedreiro em uma obra ao lado da casa das vítimas, onde também morava, e foi detido pelo próprio delegado, momentos depois que os corpos foram encontrados.
Segundo relatado pelo policial, ele foi acionado através do celular de plantão da delegacia, pelo Corpo de Bombeiros, que informou ter encontrado os corpos de quatro pessoas.
De início, eles acreditaram que poderia ser corpos de mulheres ligadas ao crime de tráfico de drogas, mas o bombeiro reforçou que eram vítimas em uma residência. Assim, o delegado entendeu que não teria ligação com o tráfico.
Quando chegou na casa, o delegado disse que sofreu um choque e logo ordenou a proibição da entrada de terceiros até a chegada da perícia. Após análise, concluíram de que nada teria sido subtraído da casa e eles constataram que a situação era de crime sexual e feminicídio, “cometidos de forma absurdamente violenta”.
Diante da conclusão, foi acionado apoio da Polícia Militar e eles começaram as buscas para localizar o autor dos crimes. Quando se deslocou até a obra ao lado da casa, no caminho foi interrompido por um jornalista, que tinha um telefone na mão, e disse que uma pessoa tinha uma informação a passar.
Ao telefone, a pessoa contou que seu marido trabalhava na obra ao lado da casa e, que quando souberam do crime, todos os pedreiros correram para ver o caso, menos um deles, que usava camiseta de cor amarela. O comportamento causou estranheza, inclusive do delegado.
França, então, entrou na obra e confrotou Gilberto, que deu respostas desencontradas. Informado com a incongruência, o delegado pediu o chinelo do suspeito, que disse que não tinha chinelo. Entretanto, o delegado insistiu, até que Gilberto foi em outro local, pegou um chinelo e o entregou.

Ele monitorava a casa e aguardou que as vítimas estivessem em casa, em repouso, para entrar na casa
O perito analisou o calçado e disse que, sem dúvidas, era o chinelo do autor dos crimes. Assim, o delegado realizou a prisão do pedreiro, e nesse momento, os demais investigadores informaram a ele sobre o histórico de crimes de Gilberto. “A gente já tinha certeza de que ele era o autor e agora a gente sabia que era um criminoso em série”, disse.
Quando questionou o suspeito da motivação, o delegado contou que a resposta do réu foi de que “estava drogado”. A autoridade policial, então, pediu uma algema para prendê-lo, mas foi aconselhado a não retirá-lo dali algemado, pois seria linchado pela população.
No momento, o próprio réu percebeu o risco e pediu que apenas fosse retirado dali, e foi escoltado até a viatura, sem uso de algema. Após colocá-lo no camburão, o delegado informou à Elenara, irmã de Cleci, que o autor do crime era Gilberto.
Ainda conforme França, na sacola com os pertences do réu, que estava escondida na obra, foi encontrada uma calcinha limpa, que foi entendida como uma “lembrança” levada por Gilberto dos crimes que, conforme confessado, cometeu.
O delegado revelou que, da obra, Gilberto conseguia enxergar grande parte do interior da casa das vítimas, e o próprio réu confessou ter analisado a rotina da família dias antes do crime. “Ele monitorava a casa e aguardou que as vítimas estivessem em casa, em repouso, para entrar na casa”.
Quando analisava os arredores, o delegado percebeu que no muro de trás da casa, no lado da obra, havia um andaime com uma tábua. Esse muro dava acesso à residência e ficava próximo ao um lavabo da casa, o que demonstrava que a entrada poderia ter ocorrido, uma vez que o acesso frontal era dificultado por conta dos cachorros, que eram bravos.
Depois de assassinar mãe e filhas, o réu ainda se lavou no local do crime e escondeu vestígios, disse França, que ainda comentou que devido à brutalidade do crime, “a cidade nunca mais vai ser a mesma” e que “ninguém daquela casa vai ser a mesma pessoa”.
Segundo o delegado, além de premeditar o crime, Gilberto tentou não ser descoberto quando matou a vítima de 10 anos, para que outras pessoas não ouvissem o choro dela.
Sobre a perícia, o delegado contou que foi confirmada conjunção carnal com três das quatro vítimas, com exceção da menina de 10 anos, mas que ela também foi vítima de abuso.
Já na delegacia, durante o interrogatório, Gilberto contou o crime com “serenidade”, “como se estivesse contando uma pescaria” e com uma “tranquilidade assustadora”. O delegado afirmou que a única tristeza percebida no réu era por ter sido preso.
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FONTE: MIDIA NEWS