O governo brasileiro trabalha para que a declaração final da cúpula da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) reforce que o combate a crimes na região é uma tarefa que cabe aos próprios países.
A articulação é tratada no governo brasileiro como uma resposta ao movimento do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que enviou navios de guerra para o Caribe, próximo a países da OTCA, em especial a Venezuela.
Ricardo Stuckert/PR
O encontro da OTCA, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), será nesta sexta-feira (22), em Bogotá. Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela integram a organização do tratado.
A movimentação de navios americanos não é o principal assunto da cúpula, mas deve ser abordada pelas autoridades. O principal objetivo do encontro é alinhar as posições dos países amazônicos para a COP30, a ser realizada em novembro no Brasil.
Na visão do governo brasileiro, os países amazônicos não devem produzir um posicionamento exclusivamente voltado para esse tema, mas o assunto deve ser abordado com ênfase na declaração final.
De acordo com fontes do governo, o objetivo da iniciativa é, simbolicamente, reduzir o espaço de Washington e esvaziar os argumentos de Trump para justificar a presença militar na região.
Por ora, o governo brasileiro descarta um posicionamento unilateral com críticas sobre a movimentação das frotas americanas. A leitura é que uma manifestação nesse sentido poderia ser interpretada pela Casa Branca como uma provocação e ajudaria a escalar a crise diplomática decorrente do tarifaço.
Neste momento, a avaliação do governo brasileiro é que uma declaração própria só faria sentido diante de uma escalada no conflito, provocada, por exemplo, pela invasão das águas venezuelanas pelas embarcações dos Estados Unidos.
Combate a crimes
Trump enviou os navios militares com o discurso de enfrentar ameaças de cartéis de drogas latino-americanos. As embarcações ficaram em águas internacionais, mas o movimento desagradou os governos da região.
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, disse na quarta-feira que “os EUA se acham donos do mundo”, chamou a mobilização militar de agressão imperialista e afirmou que Trump usa as operações contra o tráfico de drogas como pretexto para intervir no país.
O governo brasileiro não acredita em uma operação militar norte-americana na Venezuela, mas entende que a movimentação dos navios cria uma tensão desnecessária na região.
Nesse contexto, o Brasil negocia a menção, na declaração da cúpula da OTCA, a respeito da prerrogativa dos países de combaterem juntos crimes como tráfico de drogas, garimpo ilegal, exploração de madeira e outros.
‘Espantalho perfeito’
Nos últimos dias, representantes do governo brasileiro têm mantido contato com interlocutores americanos para construir uma percepção mais precisa das intenções de Trump com o envio dos navios para a América do Sul.
Há uma leitura no governo Lula de que o movimento funciona como um “espantalho perfeito” que Trump usa para mandar um recado a outros países em que há atuação de cartéis do tráfico de drogas, como México e Panamá.
Segundo fontes do governo brasileiro, esses interlocutores americanos sustentam que Trump almeja Prêmio Nobel da Paz e, por esta razão, estaria empenhado em mediar um processo de paz entre Rússia e Ucrânia. Por conta disso, não faria sentido uma agressão militar a outro país nesse momento.
O próprio presidente norte-americano tem se vangloriado de estar acabando com guerras mundo afora.
FONTE: RDNEWS