segunda-feira, agosto 25, 2025

O efeito bumerangue do tarifaço | RDNEWS

Rodinei Crescêncio/Rdnews

O aumento unilateral das tarifas aduaneiras pelo governo americano, está acontecendo um efeito bumerangue sobre a economia americana. A atividade econômica desacelera, os preços ao consumidor aumentaram, pressionando a inflação, as grandes empresas reclamam do aumento brusco de custos e as grandes associação empresariais nacionais enviam cartas à Casa Branca informando que estão perdendo competitividade no mercado global.

A desaceleração da atividade econômica americana ficou mais evidente na última sexta feira (22). Jerolme Powell, presidente do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, disse que a autoridade monetária americana poderá iniciar o ciclo de redução da taxa de juros, que atualmente está em 4,5% ao ano, na reunião de setembro próximo. Baseou-se em dados que mostram o desaquecimento do mercado de trabalho, redução de vendas no varejo e queda nas compras de novas moradias. Disse também que, no balanço de riscos, duas variáveis ainda precisam ser avaliadas com mais atenção: a inflação que ainda persiste acima da meta e as incertezas no cenário econômico mundial em razão da tarifação do governo americano.

Na última terça-feira (19) a poderosa American Soybean Association (Associação Americana de Soja) entregou carta ao governo americano dizendo literalmente que os produtores de soja “… estão à beira do precipício comercial e financeiro, e não podem sobreviver a uma disputa prolongada com nosso maior cliente”. Alegam que, após o tarifaço, a China cancelou as compras de soja norte-americana, adquirindo soja do Brasil. A China é a maior compradora de soja do mundo. Em 2024, adquiriu 105 milhões de toneladas, a maior do Brasil.

Na carta citam, como exemplo, a comercialização de soja no mês de julho. A China comprou 10,39 milhões de toneladas de soja do Brasil, enquanto dos fazendeiros americanos adquiriu apenas 420,8 mil toneladas. Os chineses cancelaram contratos de compras para o segundo semestre, justamente o período de colheita da soja nos EUA e período em que os chineses compram mais soja dos produtores americanos. No documento, a associação afirma que “…devido à retaliação tarifária, nossos clientes de longa data na China recorreram e continuarão recorrendo aos nossos concorrentes da América do Sul para suprir sua demanda. Demanda que o Brasil pode atender devido ao expressivo aumento da produção desde a guerra comercial anterior com a China (2019)”.  Pedem que o presidente americano acelere as negociações comerciais com a China e priorize a commodity.

Ao final, a associação lembra ao presidente americano que os agricultores apoiaram fortemente sua eleição e agora precisam de sua ajuda para sobreviver à disputa comercial.

Na quinta-feira (21), ao apresentar os resultados do segundo trimestre da Walmart, maior varejista americana e do mundo, o presidente da companhia, Doug Mcmillon, afirmou, em comunicado aos acionistas e ao mercado, que os clientes, sobretudo as famílias de classe média e baixa, ajustaram seus hábitos de consumo frente ao aumento dos preços, especialmente de itens básicos como mercearia (alimentação), saúde e bem-estar. Afirmou que “… o impacto das tarifas promoveu mudanças no comportamento dos clientes que estão mais contidos em seu consumo”. E prevê que, ao fazer as reposições de estoques, “…os custos (e os preços) devem continuar subindo no terceiro e quarto trimestre”.

Anteriormente, a Amazon, maior varejista do e-comerce americano, havia comunicado que vai anotar em seus produtos o valor que aumentou em cada produto em função da sobre tarifação determinada pelo governo americano.

A política de comércio exterior do governo americano é ineficaz para o mundo e, principalmente, para os Estados Unidos


Vivaldo Lopes

Movimento idêntico de aumento de custos e de preços finais ao consumidor é notado no consumo de café, suco de laranja e hamburguer, três produtos muito consumido pelo consumidor americano e que dependem das exportações brasileiras. Os americanos não produzem essas commodities em volume que atenda a demanda doméstica e não encontrarão países que possam suprir o mercado. No caso do café, por exemplo, os norte-americanos produzem apenas 1%, no Havaí e Porto Rico, necessitando importar 99%.

Compartilho da leitura da maioria dos analistas econômicos que a política de comércio exterior do governo americano é ineficaz para o mundo e, principalmente, para os Estados Unidos. O principal objetivo alegado, a reconstrução da indústria nacional e o fortalecimento da classe média americana, não serão alcançados apenas com sobretaxação das importações. No curto prazo podem até aumentar a arrecadação federal e elevar a lucratividade de alguns segmentos da indústria, mas não garante, necessariamente, uma revoada de plantas industriais para aquele país e nem o aumento de melhores empregos e melhoria da qualidade de vida da classe média. Esta, por sua vez, pressionada pelo brusco aumento do custo de vida, pode manifestar sua insatisfação nas eleições parlamentares que serão realizadas em 2026.

Vivaldo Lopes é economista e escreve neste espaço às segundas-feiras.

FONTE: RDNEWS

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