Durante a semana, no final da tarde, passava de carro pelo Praça 8 de Abril quando, em um semáforo, fui abordado por uma jovem que, educadamente, me ofereceu um adesivo de Bolsonaro para colocar no veículo.
Também de forma educada recusei o pedido.
Um rapaz, que estava com a jovem lhe disse que não adiantaria tentar me convencer do contrário pois eu era ‘lulista’. Ao anúncio de que um ‘adversário’ trafegava no local, o grupo que fazia a adesivagem do ‘mito’, me dedicou uma sonora vaia – menos a educada jovem que havia oferecido o adesivo.
Em silêncio sai da constrangedora situação. Ao olhar pelo retrovisor do carro percebi que os veículos que me seguiam não recusavam a oferta de carregar o 22 no carro. Logo pensei: será que só eu estou errado? E comecei a me questionar.
O que é mais perigoso: corrupção na Petrobras ou uma ditadura, que Bolsonaro vive enaltecendo e ameaçando reeditar?
O que é mais grave: corrupção na Petrobras (roubo) ou os 700 mil mortos na pandemia (latrocínio)? A corrupção na Petrobras ou a desertificação da Amazônia, que vai esculhambar com o clima na Terra nos próximos séculos ou milênios, caso desmatemos só mais um pouquinho? A corrupção na Petrobras ou um país armado? A corrupção na Petrobras ou o desrespeito às minorias? A corrupção na Petrobras ou o império de fake news?
O que assusta mais: o risco de que haja corrupção por parte do PT ou qualquer corrupção da família Bolsonaro (com os 51 imóveis comprados com papel-moeda, orçamento secreto, rachadinha e ligação com milicias cariocas)?
O que causa mais medo: o risco da redução drástica das queimadas na Amazônia e demarcações de terras indígenas e quilombolas ou apoio à madeireiros, grileiros e garimpeiros ilegais? Aumento real do salário mínimo ou o contrário?
De um lado há um candidato que era presidente à época da corrupção na Petrobras. Do outro há um candidato cujo ídolo, foi um torturador na ditadura.
De um lado há um candidato em que você pode discordar, pois ele vai aceitar discutir com você, dentro das regras democráticas. Já do outro lado… Difícil escolha?
Não sou ‘lulista’ – apesar de ter votado nele contra o Collor e nas duas vezes em que foi eleito, só não o fiz nas duas vezes em que perdeu para FHC -, hoje me incluo nos quase 20%, segundo a última pesquisa do Datafolha, dos que votam em Lula pelo simples motivo que não querem ver Bolsonaro e, principalmente, o que ele representa nos próximos quatro anos no Palácio do Planalto. Já Lula, se ele errar é só engrossar a oposição no dia seguinte a sua eleição!
Enfim, argumentos não me faltam para ficar onde estou, mesmo que sozinho e vaiado em uma praça pública de Cuiabá.
*Gustavo Oliveira é diretor de Redação do Diário de Cuiabá
FONTE: Folha Max