Rodinei Crescêncio/Rdnews
O diabetes mellitus (DM), especialmente o tipo 2, é uma condição crônica que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Além dos desafios relacionados ao controle glicêmico, o diabetes apresenta um impacto significativo no sistema musculoesquelético, aumentando o risco de lesões tendíneas e alterações na composição corporal, como a perda de massa muscular esquelética. Neste artigo, exploramos os riscos e benefícios do exercício físico para pessoas com diabetes, com destaque para as tendinopatias e a importância da preservação da massa magra.
Riscos musculoesqueléticos no diabetes
Entre os efeitos menos discutidos do diabetes estão as alterações nos tendões e músculos. Estudos demonstram que o DM aumenta o risco de tendinopatias e de ruptura tendínea, especialmente em tendões como o de Aquiles, o patelar e o manguito rotador. Essas alterações estão relacionadas a:
1. Glicação avançada (AGEs): O acúmulo de produtos finais da glicação avançada nos tendões reduz sua elasticidade e capacidade de regeneração.
2. Hipoperfusão tecidual: A microangiopatia, característica do diabetes, reduz o aporte de nutrientes aos tendões e músculos.
3. Alteração na qualidade do colágeno: Os tendões de pessoas com diabetes apresentam maior rigidez devido à modificação estrutural do colágeno.
Esses fatores tornam os tendões mais suscetíveis a lesões, principalmente em atividades que envolvem sobrecargas ou movimentos repetitivos.
A importância da massa muscular no controle do diabetes
Um ponto crítico na saúde das pessoas com diabetes é a redução da massa muscular esquelética, especialmente nos membros inferiores. Essa perda muscular impacta diretamente na piora da resistência à insulina, fator central no diabetes tipo 2, e aumenta o risco cardiovascular. Um artigo recente reforça que a resistência à insulina melhora em 11% para cada 10% de aumento na massa muscular esquelética. Esse dado reforça a necessidade de estratégias que promovam a preservação e o ganho de massa muscular em pacientes diabéticos.
Por que a perda muscular agrava o diabetes?
• O músculo esquelético é um dos principais tecidos responsáveis pela captação de glicose induzida pela insulina.
• A redução da massa magra diminui a taxa metabólica basal, prejudicando o controle do peso e da glicemia.
• O enfraquecimento muscular compromete a capacidade funcional, aumentando o risco de quedas e reduzindo a adesão ao exercício físico.
Benefícios do exercício físico para pacientes com diabetes
Apesar dos riscos musculoesqueléticos, o exercício físico, quando bem orientado, é uma das ferramentas mais eficazes para o controle do diabetes e a prevenção de complicações.
1. Melhora da sensibilidade à insulina:
• O treinamento resistido, como musculação, é especialmente eficaz no aumento da massa muscular e na melhora da captação de glicose pelos músculos.
• Exercícios aeróbicos promovem maior eficiência no metabolismo da glicose e melhora no perfil lipídico.
2. Redução do risco cardiovascular:
• A prática regular de exercícios reduz os níveis de glicemia, pressão arterial e colesterol, diminuindo significativamente o risco de eventos cardiovasculares.
3. Prevenção de complicações musculoesqueléticas:
• O fortalecimento muscular e o alongamento previnem lesões e melhoram a funcionalidade dos tendões.
• O fortalecimento dos membros inferiores, por exemplo, reduz o risco de quedas e melhora a estabilidade articular.
4. Impacto na composição corporal:
• Além do aumento da massa muscular, o exercício contribui para a redução da gordura visceral, um dos maiores vilões na resistência à insulina.
Cuidados na prescrição de exercícios para diabéticos
Para pacientes com diabetes, é fundamental que o exercício seja planejado de forma individualizada, levando em consideração as condições clínicas e possíveis complicações. Algumas recomendações incluem:
• Evitar cargas excessivas: Pessoas com histórico de tendinopatia devem iniciar com cargas leves e progressivas para reduzir o risco de rupturas.
• Focar na biomecânica: Exercícios de fortalecimento devem ser realizados com orientação para evitar sobrecargas nos tendões mais vulneráveis.
• Combinar exercícios aeróbicos e resistidos: Essa abordagem maximiza os benefícios no controle glicêmico e na saúde musculoesquelética.
• Monitorar a glicemia: Antes e depois das atividades físicas, especialmente em pacientes que usam insulina ou hipoglicemiantes.
Conclusão: Vamos Malhar!
O diabetes traz desafios que vão além do controle glicêmico, impactando a saúde dos tendões, músculos e a funcionalidade geral. No entanto, os benefícios do exercício físico, quando bem orientado, superam os riscos. A mensagem é clara: aumentar a massa muscular melhora a resistência à insulina e reduz os riscos cardiovasculares.
Como mostra o dado recente, a resistência à insulina pode ser reduzida em 11% para cada 10% de aumento da massa muscular esquelética. Portanto, integrar o exercício físico à rotina de pacientes com diabetes é uma intervenção essencial para melhorar a qualidade de vida e prevenir complicações a longo prazo. Afinal, cuidar da saúde nunca foi tão promissor – e isso inclui fortalecer o corpo para proteger também os tendões e músculos.
Fellipe Ferreira Valle é formado em medicina pela Universidade de Medicina de Teresópolis -RJ, realizando posteriormente residência médica em ortopedia na Santa Casa de Belo Horizonte onde também realizou especialização em cirurgia do joelho e cirurgia do ombro e cotovelo. É também membro fundador da Sociedade Brasileira de Regeneração Tecidual e Socio efetivo da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia. Professor de medicina na UNIVAG e preceptor da residência de ortopedia da UNIC. Instagram :@dr.fellipe
FONTE: RDNEWS