Produtores rurais brasileiros já incorporam ferramentas de ponta para enfrentar incertezas climáticas e pressões de mercado. O resultado é que o setor agrícola não apenas está flertando com novas tecnologias, como transformando práticas tradicionais em processos guiados por dados.
Em propriedades rurais de diferentes escalas, a presença digital já é realidade. Levantamento conduzido pela pesquisadora da Universidade de Brasília (UnB), Maira de Souza Regis, revela que mais de 95% dos produtores utilizam, pelo menos, uma ferramenta tecnológica em suas operações. A sustentação de sistemas é uma alternativa, sobretudo, nas regiões onde a infraestrutura de internet ainda apresenta fragilidades – realidade que explica a disparidade regional no uso dessas tecnologias, com 80% de adoção no Centro-Oeste ante 41% no Nordeste.
A transformação digital não mostra sinais de desaceleração. Projeções da consultoria 360 Research & Reports apontam para um salto de 183% no mercado global de agricultura digital até 2026, quando deverá atingir a marca de US$ 8,3 bilhões. Por trás desses números, há uma confluência de fatores: avanços tecnológicos mais acessíveis, pressões por sustentabilidade e a necessidade de maximizar recursos em cenários cada vez mais imprevisíveis.
Softwares especializados redefinem gestão do plantio à colheita
O desenvolvimento de software especializado para cada etapa do cultivo tem se consolidado como prioridade no agro. As Agtechs (startups do agronegócio) e Deep Techs (startups de base científica) ganham terreno ao oferecer soluções para desafios, como evidenciado pelo caso da Cromai, que emprega georreferenciamento para identificar ervas daninhas e impurezas em tempo real.
Enquanto os tratores percorrem as lavouras, algoritmos trabalham em segundo plano, analisando padrões invisíveis ao olho humano. Sensores instalados no campo captam variações de umidade, temperatura e composição do solo, alimentando sistemas que antecipam condições climáticas adversas e orientam intervenções.
As aplicações transcendem o monitoramento básico: o processamento de grandes volumes de dados históricos possibilita a construção de cenários preditivos que fundamentam decisões estratégicas sobre épocas de plantio, variedades mais adequadas e expectativas de comercialização.
Compras on-line aumentam entre produtores
A pesquisa “A mente do agricultor brasileiro 2024”, realizada pela McKinsey, revela que 71% dos produtores já incorporaram plataformas online na jornada de aquisição de insumos – tendência que deve se intensificar em 2025.
Na comercialização, o blockchain, tecnologia inicialmente associada a criptomoedas, ganha aplicações práticas no campo. Trata-se de um sistema descentralizado de registro de informações com potencial para transformar a maneira como as commodities agrícolas são negociadas e rastreadas.
Para o consumidor final, isso significa transparência sem precedentes sobre a origem e processamento dos alimentos. Para o produtor, representa acesso a novos mercados e valorização da produção sustentável.
Paralelamente, avança a “tokenização”, como é chamado o processo de representação digital de ativos físicos como soja, milho e café. A consultoria Roland Berger projeta que esse mercado salte dos atuais 300 bilhões de dólares para aproximadamente 10 trilhões de dólares até 2030.
Agricultura de precisão reduz impacto ambiental
No campo, os olhos eletrônicos se multiplicam: drones sobrevoam plantações, enquanto sensores inseridos no solo captam variações imperceptíveis de umidade e nutrientes. A agricultura de precisão, que antes parecia um conceito distante, incorpora-se rapidamente ao cotidiano do produtor brasileiro.
O monitoramento remoto de máquinas agrícolas pode beneficiar especialmente pequenos e médios produtores. Com sistemas de rastreamento via GPRS e GPS, agricultores conseguem acompanhar em tempo real o desempenho de tratores e implementos, antecipando soluções para falhas mecânicas e otimizando o consumo de combustível.
FONTE: PLANTÃO 24 HORAS NEWS