Falha de coordenação política  | RDNEWS

No ano de 2002 presenciamos a formação de um grupo político díspar, pessoal e politicamente com um objetivo único e focado: eleger o outsider, empresário milionário, Blairo Maggi governador de Mato Grosso e derrotar o grupo político que dominava todos os setores e espaços de poder do estado, liderado por Dante de Oliveira, exímio articulador político e visionário. Como foi possível domar a vaidade, a difusão de interesses entre políticos experientes e poderosos, como Jonas Pinheiro, Jayme Campos, Roberto França, Percival Muniz? Para citar apenas o senador e os que estavam efetivamente governando as 03 maiores cidades do Estado.

Seria possível o agrupamento de políticos poderosos, de diferentes ideologias e interesses, em torno de um nome hoje? Considerando que o prefeito de Cuiabá a prefeita de Várzea Grande e prefeito de Rondonópolis não detém a experiência e expressão política de Roberto França, Jayme Campos e Percival Muniz respectivamente.

Diferentes partidos políticos obviamente têm diferentes ideologias políticas, o mesmo acontece entre as pessoas que partilham o mesmo grupo e até partido político. Cientistas políticos que estudam campanhas adaptaram dos estudos teóricos da economia um conceito chamado falha de coordenação (coordination failure), que descreve a situação oposta do que citei acima, em que indivíduos ou grupos não conseguem cooperar ou agir em conjunto, mesmo que isso seja altamente interessante ou questão de sobrevivência do grupo no poder.

Diferentes partidos políticos obviamente têm diferentes ideologias políticas, o mesmo acontece entre as pessoas que partilham o mesmo grupo e até partido político.

Cientistas políticos analisam que as falhas de coordenação se concentram nos motivos pelos quais um projeto de poder pode dar errado no sentido de manter o grupo político unido para vencer as eleições. Um dos problemas que surge é o lançamento incompreensível de dois candidatos com posicionamentos semelhantes, que juntos poderiam ter apoio da maioria dos eleitores, competindo contra um candidato adversário de um campo ideológico diferente. A divisão dos votos dos iguais é a oportunidade que a oposição espera para virar o jogo e já começam os ruídos sobre 2026.

Alertam também sobre a ineficiência para se barrar os conflitos de interesses dentro do grupo político, quando a liderança política fraca permite que os interesses pessoais influenciem as decisões ou ações de forma a comprometer o projeto de poder do grupo, em detrimento da vaidade de alguns.  

A falha de coordenação surge porque os políticos, considerando o momento não trabalham em conjunto, não são capazes de estabelecer o consenso e garantir que todos façam a mesma escolha. Ou seja, poderiam atingir um resultado equilibrado, mas não cedem a ponto de canalizar os interesses no mesmo sentido. Isto pode levar a um resultado inesperado e favorecer a eleição de candidato que corre por fora e aparenta estar isolado e em desvantagem.

Para a eleição de 2022, o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso recebeu 499 Requerimentos de Registros de Candidaturas dentro do prazo previsto. Eram quatro candidatos ao cargo de governador e seus respectivos vices, sete candidatos a senador com os respectivos suplentes, 156 candidatos (as) a deputado (a) federal e 314 para o cargo de deputado(a) estadual. Imagino como será a inflação de candidatos em 2026, a costura política e divisão de poder para que todos caibam nos grupos políticos já instituídos ou a audácia política de um ou outro para se iniciar um projeto de poder novo.

Olga Lustosa é socióloga e cerimonialista pública. Escreve com exclusividade para esta coluna aos domingos. E-mail: olgaborgeslustosa@gmail.com​

FONTE: RDNEWS

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