Trump defende Bolsonaro e critica julgamento no Supremo

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta segunda-feira (7) que o Brasil está fazendo uma “coisa horrível” no tratamento dado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), alvo do STF (Supremo Tribunal Federal) no julgamento da trama golpista.

 

Eu tenho assistido, assim como o mundo, enquanto eles não fazem nada além de persegui-lo

“Eu tenho assistido, assim como o mundo, enquanto eles não fazem nada além de persegui-lo, dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano. Ele não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo povo”, afirmou Trump em um post na Truth Social.

 

O presidente Lula (PT) reagiu. Em nota, afirmou não aceitar interferências nas políticas internas do Brasil. “A defesa da democracia no Brasil é um tema que compete aos brasileiros. Somos um país soberano.”

 

O petista, porém, tem um histórico de ações similares. A mais recente ocorreu na semana passada, quando esteve na Argentina e visitou sua aliada Cristina Kirchner, que cumpre prisão domiciliar. Lula posou para foto segurando um cartaz em que pede liberdade para a ex-presidente.

 

Já Bolsonaro comemorou a postagem de Trump. “Recebi com muita alegria a nota do presidente”, disse o ex-presidente em suas redes sociais. “Este processo ao qual respondo é uma aberração jurídica, clara perseguição política, já percebida por todos de bom senso”, completou o inelegível ex-presidente.

 

A mensagem de Trump, segundo uma pessoa com acesso às tratativas, vem como um desdobramento de uma reunião que o presidente americano teve com assessores na semana passada cujo tema foi exclusivamente o cenário político e judiciário no Brasil.

 

“Eu passei a conhecer Jair Bolsonaro, e ele foi um líder forte, que realmente amava seu país. Além disso, um negociador muito duro em questões de comércio. Sua eleição foi muito apertada e, agora, ele está liderando nas pesquisas”, afirmou Trump na mesma postagem desta segunda-feira.

 

“Isso não é nada mais nada menos do que um ataque a um oponente político —algo que eu conheço muito bem! Aconteceu comigo, dez vezes pior, e agora o nosso país é o mais ‘quente’ do mundo!”, prosseguiu o presidente dos EUA, sem indicar quem seria essa “oponente político”.

 

A mensagem de Trump ocorre em meio à pressão e expectativa de bolsonaristas para que os Estados Unidos apliquem uma sanção ao ministro Alexandre de Moraes, do STF. A articulação conta com pessoas próximas ao presidente dos EUA, como o ex-assessor de Trump Jason Miller.

 

“O grande povo do Brasil não vai tolerar o que estão fazendo com seu ex-presidente. Estarei acompanhando muito de perto a caça às bruxas contra Jair Bolsonaro, sua família e milhares de seus apoiadores. O único julgamento que deveria estar acontecendo é o julgamento pelo voto do povo brasileiro. Isso se chama eleição. Deixem Bolsonaro em paz”, finalizou Trump na mensagem.

 

Um aliado de Trump afirma que esse é sinal de que o presidente americano está diretamente envolvido nas discussões sobre sanções a Moraes.

 

Haveria ainda espaço para não haver as punições, mas que passaria por um recuo do Supremo em ações ou um gesto do governo brasileiro de que não respalda as investigações tocadas por Moraes, o que não deve ocorrer.

 

Integrantes do governo Trump consideram que Bolsonaro e seus aliados estão sob ataque de uma corte que veem como “instrumentalizada”. À Folha um funcionário sênior da gestão afirmou que as decisões do STF contra o ex-presidente e os bolsonaristas são tomadas para censurar a liberdade de expressão e que as medidas têm como objetivo, nas palavras dele, subverter a democracia para “sustentar um governo impopular”, em uma referência a Lula.

 

Assim como Lula, a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann (PT), reagiu à declaração de Trump, afirmando que o americano não pode interferir no processo judicial brasileiro.

 

“O tempo em que o Brasil foi subserviente aos EUA foi o tempo de Bolsonaro, que batia continência para sua bandeira e não defendia os interesses nacionais. Hoje ele responde pelos crimes que cometeu contra a democracia e o processo eleitoral no Brasil”, disse a ministra.

 

“Não se pode falar em perseguição quando um país soberano cumpre o devido processo legal no estado democrático de direito, que Bolsonaro e seus golpistas tentaram destruir”, escreveu ela no X (antigo Twitter).

 

O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho de Bolsonaro, licenciou-se do mandato em março e mora nos EUA desde então alegando ser perseguido pelo magistrado do Supremo e reforçou a articulação junto a integrantes do governo Trump para que haja uma punição ao ministro.

 

Há duas semanas, o deputado republicano Chris Smith enviou carta ao secretário de Estado, Marco Rubio, e à Casa Branca pedindo que o governo aja rapidamente para aplicar sanções a Moraes. Smith é copresidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Estados Unidos e já era um defensor da aplicação de punições ao magistrado.

 

O envio da carta pressionando o Governo dos EUA, ocorreu dois dias depois de o ex-comentarista da Jovem Pan Paulo Figueiredo prestar depoimento na comissão como testemunha. A narrativa de aliados de Bolsonaro é que ele é perseguido politicamente, num movimento para anular a oposição ao presidente Lula no Brasil.

 

Na Presidência, Bolsonaro acumulou uma série de declarações golpistas às claras, provocou crises entre os Poderes, colocou em xeque a realização das eleições de 2022, ameaçou não cumprir decisões do STF e estimulou com mentiras e ilações uma campanha para desacreditar o sistema eleitoral do país.

 

Após a derrota para Lula, incentivou a criação e a manutenção dos acampamentos golpistas que se alastraram pelo país e deram origem aos ataques do 8 de Janeiro.

 

Nesse mesmo período, adotou conduta que contribuiu para manter seus apoiadores esperançosos de que permaneceria no poder e, como ele mesmo admitiu publicamente, reuniu-se com militares e assessores próximos para discutir formas de intervir no TSE e anular as eleições.

 

Saudosista da ditadura militar (1964-1985) e de seus métodos antidemocráticos e de tortura, o ex-presidente já foi condenado pelo TSE por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral e é réu no STF sob a acusação de ter liderado a trama golpista de 2022. Hoje está inelegível ao menos até 2030.

 

Caso seja condenado pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio público e deterioração do patrimônio tombado, a pena pode passar de 40 anos de prisão.

FONTE: MIDIA NEWS

comando

Sair da versão mobile