Isolar ou revidar: ataque em escola acende alerta sobre bullying

O ataque cometido por um adolescente de 16 anos contra dois colegas, de 13 e 15 anos, na Escola Estadual Domingos Aparecido dos Santos, em Rondonópolis (214 km de Cuiabá), na última semana, reacendeu um alerta urgente para escolas e famílias sobre os impactos do bullying.

 

Para ele chegar a esse ponto, já vivenciava isso há muito tempo. É muita dor, muita humilhação. Ele não sabia lidar e foi para o lado da reação

O jovem afirmou que sofria bullying da menina de 13 anos, que foi atingida por três facadas e teve o pulmão perfurado. O colega de 15 anos tentou defendê-la, mas também acabou ferido, sofrendo um corte profundo na mão.

 

A psicóloga Stella Gasparetto, especialista em atendimento a adolescentes e vítimas de violência, explicou em entrevista ao MidiaNews que o adolescente reagiu de forma “reativa” ao bullying. Segundo ela, vítimas desse tipo de perseguição costumam responder de duas maneiras: isolando-se ou revidando com agressividade.

 

“Ela pode se fechar, ser uma criança ou adolescente mais tímido, que no recreio fica sozinho para tentar se manter naquele espaço. É a forma que encontra para lidar”, afirmou.


“Já o outro tipo é o que reage com agressão. Não é a melhor forma, mas é a que encontrou porque crianças e adolescentes não têm maturidade emocional ou fisiológica para lidar com situações de violência”.

 

Stella destacou que o bullying costuma surgir quando o jovem apresenta características consideradas fora do padrão social. Essas diferenças podem gerar agressões físicas e psicológicas que, com o tempo, afetam profundamente o emocional da vítima e podem desencadear transtornos como ansiedade e depressão.

 

O adolescente deixou uma carta de despedida para a família dizendo não saber o que era sentir felicidade “há muito tempo”.

 

 

 

“Para ele chegar a esse ponto, já vivenciava isso há muito tempo. É muita dor, muita humilhação. Ele não sabia lidar e foi para o lado da reação”, acrescentou. 

 

A psicóloga lembrou que o jovem que pratica bullying muitas vezes reproduz comportamentos do próprio ambiente familiar.

 

“Se os pais não impõem limites, ele vai achar que está tudo bem maltratar, bater ou desrespeitar o colega. Esses valores precisam ser ensinados dentro de casa”, disse. 


“Se vive em um ambiente desestruturado, violento ou negligente, ele pode externalizar isso fora de casa. O bullying pode ser um desses reflexos”, acrescentou. 

 

Consequências emocionais

 

Conforme a psicóloga, tanto a vítima quanto o agressor precisam de acompanhamento psicológico. Sem apoio, o agressor tende a naturalizar a violência, enquanto a vítima pode carregar sentimentos de insuficiência e baixa autoestima para a vida adulta.

 

“Essa criança pode se tornar um adulto que não sabe se impor ou, ao contrário, alguém muito reativo, que explode por qualquer coisa, porque foi assim que aprendeu a lidar com conflitos”, explicou.

 

 

 

A psicóloga explicou que é possível identificar vítimas de bullying por mudanças de comportamento, recusa em ir à escola, crises de ansiedade, dores de cabeça, dores de barriga e choro frequente. O rendimento escolar também cai.

 

“Se o aluno está sofrendo bullying, não consegue prestar atenção na aula. Fica em alerta constante, observando se o agressor vai fazer alguma coisa. Não há como aprender assim”. 

 

Papel da família e da escola

 

A orientação de Stella é para que pais não minimizem o sofrimento dos filhos.

 

“Muitos dizem que é brincadeira, mas não é. Causa danos psicológicos sérios. É essencial observar mudanças de comportamento”. 

 

Ela também criticou a prática comum de orientar o filho a revidar. “Muitos pais dizem ‘bate de novo, enfrenta’. Mas esse não é o comportamento adequado”. 

 

As escolas, por sua vez,  conforme a psicóloga precisam oferecer apoio psicológico, intervir nos casos e fomentar empatia entre os estudantes.

 

“Há crianças mais empáticas que procuram professores e direção para ajudar. E os profissionais têm obrigação de agir, conversar com pais e orientar os alunos”; 

 

Para a psicóloga, o caso do adolescente evidencia a necessidade de maior atenção de famílias e escolas. Embora tenha de responder legalmente pelo que fez, seu sofrimento emocional não pode ser ignorado.

 

“Ele precisa ser ouvido. É necessário empatia, apesar do que aconteceu. Não se trata de vitimizá-lo, mas de compreender a dor que o levou a esse ponto”, finalizou. 

 

 

FONTE: MIDIA NEWS

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