Crimes mais graves, pela sua própria natureza | RDNEWS

Certa vez li que uma questão incômoda perseguia os governos mato-grossenses no curso da história. Tratava-se da ideia segundo a qual este lugar era a representação da barbárie e, por esta razão, estava condenado a permanecer como um espaço estigmatizado pelo seu atraso frente a outros espaços do país.  Falava-se de tiros pelas ruas, de homens violentos e mortes nas florestas, no pantanal e nas cidades. O tempo passou, mas por aqui ainda se ouve muito sobre crimes violentos.

Enquanto estávamos distraídos com o processo eleitoral, cumpria-se inexorável nossa sina de estado com a maior taxa de feminicídio do país em 2023 e aumento registrado de 113% em 2024. Com histórico amplamente conhecido de violento na região de Ribeirão Cascalheira e problemas com a justiça, o vereador José Soares de Souza, conhecido como Zé Fadiga, concorreu a reeleição e perdeu. Creditou a derrota a ex-mulher que o havia denunciado meses antes por violência doméstica, cárcere privado. Zé Fadiga assassinou a ex-mulher e o ex-cunhado e ao sentir-se cercado pelas forças policiais, cometeu suicídio.  

Enquanto estávamos distraídos com o processo eleitoral, cumpria-se inexorável nossa sina de estado com a maior taxa de feminicídio do país em 2023 e aumento registrado de 113% em 2024

Na cidade de Pontes e Lacerda uma mulher foi morta e deixada na varanda da casa pelo homem com o qual mantinha um relacionamento, o homem também cometeu suicídio. As investigações apontaram que, anos atrás, o homem já havia sido denunciado por violência contra outra mulher. Os dois casos têm em comum, em primeiro lugar, o cenário de homens que já haviam sido denunciados por violência contra a mulher e se safaram do cumprimento de penas e depois, a atitude duplamente covarde dos assassinos diante possibilidade de enfrentar o processo com base na nova legislação do Pacote Antifeminicídio, que aumentou a pena para o feminicídio para até 40 anos.

Sororidade zero é mulher matando mulher, como aconteceu em Peixoto de Azevedo, com emboscada, tiros que surpreenderam a vítima e fuga de motocicleta. Em Cuiabá, imagens fortes de uma tentativa cruel de assassinato de mulher, atacada por outra mulher, aconteceu na rua, no bairro Vista Alegre, próximo a um ponto de ônibus, onde estavam várias pessoas, que a princípio assistiram o desfecho das facadas e depois, indiferentes se distanciaram do local, sem prestar socorro à vítima, hospitalizada em estado grave. Mulher assassinou o marido durante discussão em Rondonópolis, alegando legítima defesa, alegando estar cansada das agressões praticada pelo companheiro em outras ocasiões. Mulheres aprendendo a serem violentas. Como dito em Augusto dos Anjos; “o homem que, nesta terra miserável, mora entre feras, sente inevitável necessidade de também ser fera”.

Em Cuiabá, o nível de confiança dos pais nos professores é fortemente abalado com a prisão em flagrante do professor de história e diretor da conhecida Escola Estadual Padre João Panarotto, por envolvimento com uma rede criminosa envolvida em exploração sexual de crianças na internet. O predador, neste caso, devido a condição profissional tinha acesso facilitado aos alvos, pois gozava de confiança das crianças e dos pais, ainda assim, usava aplicativos de jogos para atrair as vítimas. A operação contra a rede criminosa partiu da polícia de São Paulo, que descobriu as ramificações perversas no estado de Mato Grosso, mais especificamente em Cuiabá e Tangará da Serra.

Assim como ocorreu o endurecimento da pena com o pacote Antifeminicídio, a Comissão de Direitos Humanos no Senado aprovou recentemente um Projeto de Lei, do ex-senador Lasier Martins, que altera a Lei de Crimes Hediondos para incluir os crimes de posse, produção e comércio de fotografia, vídeo ou qualquer registro que contenha cena de sexo ou pornografia envolvendo criança ou adolescente, o que, consequentemente aumenta a pena de prisão para os casos de pedofilia. O termo hediondo é utilizado para designar crimes graves, pela própria natureza e pela maneira cruel como são cometidos. Não há fiança, anistia ou indulto. Boas iniciativas legais, se cumpridas.

Olga Lustosa é socióloga e cerimonialista pública. Escreve com exclusividade para esta coluna aos domingos. E-mail: olgaborgeslustosa@gmail.com

FONTE: RDNEWS

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