MidiaNews | Folia de Reis

 

“Já são 42 anos na Folia. Quem me ensinou a afinar a viola, cantar o Reis, passar a coroa, sapatear a catira e dançar uma roda foram tio Lúcio da Silva, Manoel Cascavel e João Amaro. Eles foram os três grandes mestres que tivemos, os líderes que organizaram e cuidaram de tudo. Eles nos transmitiram esse legado, e seguimos ativos até hoje para que essa tradição, que é tão bonita, não se perca. É algo que está se tornando uma relíquia pelo mundo. Por isso, estamos firmes, cantando aos Santos Reis, visitando os devotos, arrecadando recursos para entregar aos festeiros, que organizam a festa para toda a comunidade”. Diz, Vanilson Carlos Ribeiro, 51 anos, participante desde os nove de idade.

 

É algo que está se tornando uma relíquia pelo mundo

Reconhecido violeiro, é exímio tocador de caixa, pandeiro, cavaquinho, reco-reco, viola e sanfona, embaixador, catireiro de roda, domina várias expressões culturais da festa, tal como a dança de roda cruzada, jogando versos onde um canta e outro responde, com o propósito de animar e chamar a atenção do dono da casa.

 

Vanilson reverencia com carinho antigos sanfoneiros que marcaram época, como Rogério Silva, Laurey e Valmir Vilela. Vanilson homenageia aos alferes mais antigos, os mestres da Folia, Jerônimo Chagas, Sebastião Macário e Carlos Leite numa continuidade ancestral que potencializa e vivifica a história cultural da Folia dos Santos Reis.

 

A 124ª Festa de Santos Reis de Ribeirãozinho – MT, tem como festeiros: Amanda Bento e Emerson Filho; esse ano o comando é do casal Anísio Vicente Alves e Cássia Nery.

 

Virgílio Junior é folião há 14 anos, é o vovô de folia (o palhaço) podendo exercer alternadamente as atribuições de cantor, tocador e catireiro. O palhaço age como guardião, vai à frente distraindo a turma, vencendo os empecilhos, liberando caminhos para os foliões que o seguem e salvando a bandeira. Atualmente, os palhaços são Virgílio e Lucas. A responsável pela Folia dos palhaços é Laudirene. Usando roupas coloridas, ostentam máscara de couro enfeitada com lã de carneiro e trazem nas mãos uma guia (ponteira) e ou um chicote, na caminhada, eles se alternam na atividade evitando o cansaço.

 

Lino Alves Gouvêia, há 15 anos participa da Folia, expressa com firmeza e confiança: “Eu sou o principal. Sou o Alferes da Folia, responsável por organizar a arrecadação durante os giros, para entregar todas as doações no dia da festa, em 5 de janeiro de 2025. Também sou o condutor da bandeira, conduzo a bandeira até o dia da entrega na festa de Reis”.

 

O responsável pela caixa da Folia dos Santos Reis é Lino, que desempenha o papel de amealhar, coletar e salvaguardar as ofertas arrecadadas durante o giro da folia. Ele é encarregado de repassá-las ao festeiro e à festeira no dia da entrega da bandeira, destacando que “é uma ajuda para eles organizarem a festa e oferecerem o almoço e o jantar para toda a comunidade e os visitantes”. Após a oração do terço, ocorre o bingo, seguido pela coroação dos novos festeiros e foliões, e, em seguida, acontece o show e baile.

 

Laudirey Goulart de Oliveira começou a participar da Folia aos nove anos e é o Capitão guia da festividade. Ele menciona: “Sou responsável pelo giro nas fazendas e nas cidades de Ribeirãozinho, Ponte Branca e Torixoréu. Sou catireiro, toco caixa e pandeiro. Só não toco corda de viola; isso ainda não entrou na minha cabeça, mas um dia aprendo a tocar.” Após compartilhar seu desejo, ele pontua a programação da festividade: “A Folia começou no dia 24 de dezembro de 2024, passou por parte da cidade de Ribeirãozinho, fui para as fazendas e Torixoréu. Amanhã, parte para Ponte Branca, depois volta para Ribeirãozinho novamente, e vai encerrar no dia 5 de janeiro de 2025. A festa é com almoço e jantar gratuitos para todos, além de um bailão com forró.”

 

Vanilson Carlos Ribeiro é o Embaixador da Folia, sendo responsável por embaixar e comandar a Folia na cantoria e nos versos que são realizados. Laudirene Goulart de Oliveira desempenha as tarefas necessárias na Folia. Sebastião Pereira dos Santos, sanfoneiro da Folia, exerce sua função com responsabilidade, herdada de “Zé Bete do Ribeirãozinho”, um antigo tocador. Elias Soares de Souza toca pandeiro e acompanha a Folia há cerca de 20 anos. Anísio Vicente Alves, conhecido como o “folião cabeça dos outros foliões”, está na Folia há aproximadamente dez anos e toca qualquer tipo de instrumento. Este ano, ele é o responsável pela Folia juntamente com sua esposa, Cássia Nery.

 

Erli Mendes toca viola e entoa os cânticos adequados para cada ocasião; Carlos Leite também toca viola e canta. Maria Aparecida da Silva toca reco-reco, assim como Lucineide Cardoso de Oliveira. Luiz Otávio Goulart de Freitas, de apenas 13 anos, participa da Folia há quatro, trabalha como vovô (palhaço) e toca meia-lua. Mônica Rodrigues de Oliveira acompanha a Folia há cerca de sete anos, toca caixa e é mãe de duas crianças foliões. São eles: Kayro Chagas de Oliveira, de dez anos, que participa da Folia desde os sete, e toca pandeiro e meia-lua; e Kauan Chagas de Oliveira, aos seis anos de idade, que está na Folia desde os quatro.

 

Carlos Henrique Anjos dos Santos, de 20 anos, é folião desde os 16, toca pandeiro. Cecília Vitória Borges Alves, de dez anos, está na Folia desde os sete e toca meia-lua. Cristian Eduardo, de nove anos, acompanha a Folia há três anos, toca pandeiro e aprende tocar cavaquinho. Ravi Gabriel, aos nove anos de idade, participa da Folia desde que nasceu, tocando reco-reco e pandeiro. Maria Luiza Ferreira de Brito está na Folia ha quatro anos, tocando reco-reco.

 

O cantado segundo Vanilson “se a gente chegar numa casa que tiver um presépio, primeiro saúda o presépio é um tipo de cantoria, para o dono da casa é outro tipo de cantoria, que é para pedir oferta e para agradecer, na entrega da bandeira cantar o nascimento e o padecimento de Jesus. Quando está doente é outro tipo de cantoria, é para pedir a benção dos três Reis para dar vida e saúde para aquela pessoa. Esses são os nossos deveres durante o giro”. Evidencia-se que os foliões precisam estar atentos, deter conhecimentos e saberes, e se adequar à roda e às músicas, conforme o momento emocional de cada casa, as particularidades dos devotos e o ambiente que a Folia encontra, que em sua diversidade tem caráter único e multifacetado.

 

Vanilson carrega um livro artesanal, composto por todas as letras das músicas, e o momento em que devem ser cantadas no percurso da Folia. O hinário mostra: tirada da Folia; para abrir porta fechada; porta aberta; para pedir oferta; para cumprir promessa; convite para festa; primeira adoração; passar coroa; encontro de Folia; segundo encontro de Folia; para fechar a bandeira no presépio; chegada da Folia em 6 de janeiro; salvar um crucificado; cantar para um doente; agradecer quem já morreu; entrega de Folia; para salvar um cruzeiro; para saudar um embaixador; para adorar um presépio; pedir a bandeira fechada no presépio; para agradecer oferta; nascimento de Jesus; padecimento de Jesus; agradecimento de mesa; segundo agradecimento de mesa.

 

O folião Vanilson finaliza: “Cada verso aqui tem um tipo de cantar.” Há uma estética, uma poética e uma ética em cada detalhe da Folia. Salve os Santos Reis Magos! Salve a Estrela do Oriente!

 

Gilda Portella é multiartista, sacerdotisa de umbanda e mestranda do PPGECCO- UFMT      

 

 

FONTE: MIDIA NEWS

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