Em meio ao aumento do fluxo migratório em Mato Grosso – que já abriga mais de 27 mil migrantes de diferentes nacionalidades – uma realidade alarmante vem sendo denunciada por quem atua diretamente com essa população: a exploração de migrantes, em situação de extrema vulnerabilidade, por parte de organizações criminosas.
Ao , o padre Mauro Verzeletti, diretor do Centro Pastoral para Migrantes, em Cuiabá, relatou que grupos criminosos como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) têm se infiltrado nas rotas migratórias do estado de Mato Grosso e se aproveitam dessas pessoas para cooptá-las para o crime.
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Segundo ele, os migrantes chegam ao estado com a esperança de uma vida melhor, mas se deparam com uma série de dificuldades, como o desemprego, a barreira do idioma, o preconceito e a ausência de políticas públicas efetivas.
“Eles sempre estão em uma situação de vulnerabilidade”, afirma Verzeletti, destacando que muitos ganham salários que mal cobrem os custos básicos como a moradia. Segundo ele, alugar uma quitinete em Cuiabá custa, em média, de R$ 800 a R$ 1 mil, e só isso consome boa parte da renda dessas pessoas, especialmente de famílias que possuem filhos.
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Padre Mauro Verzeletti, diretor do Centro Pastoral para Migrantes
Verzeletti destacou que a Pastoral tem reforçado medidas de segurança após detectar a presença de membros de facções criminosas na região e câmeras foram instaladas para monitoramento e proteção das famílias atendidas. O padre destaca que muitos migrantes acabam se envolvendo com o crime não por escolha, mas como reflexo do abandono social.
“Essas estruturas criminosas usam os migrantes e quando estes cometem algum crime, as pessoas falam: ‘Ah, são migrantes, né? É esse tipo de pessoa’. Porém, a sociedade não sabe que, por trás, existem organizações criminosas como o Comando Vermelho e o PCC, que se aproveitam dessas pessoas, para que elas matem alguém ou vendam drogas”, explicou.
Apesar de algumas famílias receberem benefícios como o Bolsa Família, o líder religioso argumenta que esses auxílios não são suficientes para garantir uma vida digna. Por isso, ele defende a criação de um programa de aluguel social tanto para migrantes quanto para a população local de baixa renda, dada a crescente pressão por moradia em Cuiabá, cidade com cerca de 700 mil habitantes.
“A sociedade não sabe que, por trás, existem organizações criminosas como o Comando Vermelho e o PCC, que se aproveitam dessas pessoas, para que elas matem alguém ou vendam drogas”
Pe. Mauro Verzeletti
Para o diretor da Pastoral, é urgente que o poder público assuma uma postura mais ativa. “Esse é um tema bastante complexo, que precisa de cuidado por parte do poder público e da sociedade”, conclui.
Criminalidade
Casos registrados apenas neste ano reforçam essa questão, como por exemplo no mês de janeiro, em que dois homens, de 32 e 44 anos, e uma mulher, de 31 anos, todos bolivianos, foram presos por tráfico de drogas. Os suspeitos haviam ingerido 100 cápsulas de drogas e faziam o transporte como “mulas”. Eles saíram de Corumbá (MS), com destino a Cuiabá.
Outro caso foi o de uma aeronave de pequeno porte, com dois tripulantes bolivianos, que caiu entre Alta Floresta (a 789 km da capital) e o estado do Pará, no início de Abril. O avião estava carregado com 57 tablets de skunk (supermaconha). Os suspeitos ficaram feridos e, após serem atendidos, foram presos e encaminhados para Cuiabá
Para padre Mauro, o tráfico de drogas, de armas e de seres humanos forma o trio dos negócios mais lucrativos do mundo e os migrantes, pe sua vulnerabilidade, são vistos como mercadoria, sendo apenas mais uma peça nesse esquema.
FONTE: RDNEWS
