Clima fora de controle ameaça futuro de Mato Grosso, alerta pesquisadora | RDNEWS

A crise climática tem deixado rastros cada vez mais evidentes em Mato Grosso: verões mais longos e secos, chuvas cada vez mais irregulares, rios com volume reduzido e populações tradicionais sofrendo os efeitos diretos da degradação ambiental. Para a professora e pesquisadora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Solange Kimie Ikeda Castrillon, o cenário é alarmante e exige ação urgente. “As mudanças climáticas levam à diminuição de chuva e, por causa da degradação das nascentes, a água deixa de chegar”, alerta.

Ao , a pesquisadora – que também é bióloga e doutora em Ecologia e Recursos Naturais – afirma que os efeitos do aquecimento global se intensificam com a destruição de florestas e áreas de recarga hídrica, fazendo com que a ausência de cobertura vegetal comprometa diretamente o equilíbrio climático, afetando o regime de chuvas e a disponibilidade de água. 

Christian Braga/Green Peace

“Estamos com a temperatura aumentando, com diminuição de chuvas, com problemas de falta de água, contaminação de água e problemas de saúde de forma generalizada. Já é uma preocupação a escassez hídrica. Agora, com a degradação das nascentes, se essa água vier contaminada, o problema se agrava”, destaca.

Os estudos indicam que, no futuro, lugares onde houver árvores vão determinar se as pessoas vão sobreviver ou não. Um lugar totalmente desmatado, com aumento da temperatura, não oferece conforto térmico nem saúde


Solange Kimie Ikeda Castrillon

Mato Grosso abriga três dos principais biomas brasileiros – Amazônia, Cerrado e Pantanal – e, por isso, tem papel estratégico no enfrentamento da emergência climática. No entanto, o avanço do desmatamento coloca em risco o funcionamento dos ecossistemas que regulam o clima. “Pode ser que, no futuro, sintamos falta daquela mata que permitia uma temperatura mais amena, que fazia as chuvas acontecerem ali e mantinha um solo ainda saudável”, afirma.

Conforme dados do Instituto Centro de Vida (ICV), publicados em dezembro de 2024, 78,6% do desmatamento na Amazônia mato-grossense foi realizado sem autorização legal. Já no Cerrado, o desmatamento ilegal ocorreu em 63,6% da área detectada.

Para Ikeda, as consequências disso não atingem apenas o meio ambiente, mas também a segurança alimentar da população. O aumento da temperatura e a falta de chuvas impactam diretamente nas lavouras e na pecuária. 

“Vai faltar comida, vai faltar pasto. Não é só terra que a gente precisa pra ter boi. Se não chover em outubro, novembro e dezembro, quem trabalha com plantação e criação entrará em desespero”, alertou.

Reprodução

Professora e pesquisadora da Unemat Solange Kimie Ikeda Castrillon

A pesquisadora também destaca que decisões políticas que enfraquecem a legislação ambiental – como mudanças no licenciamento de empreendimentos, apresentadas no Projeto de Lei 2.159/2021, o “PL da Devastação”, que aguarda sanção ou veto do presidente Lula (PT) – agravam ainda mais a crise, citando exemplos de hidrelétricas que secaram rios inteiros sem que houvesse, segundo ela, uma consulta às comunidades afetadas.

Vai faltar comida, vai faltar pasto. Não é só terra que a gente precisa pra ter boi


Solange Kimie Ikeda Castrillon

Árvores pela sobrevivência

Por meio de projetos de restauração ecológica desenvolvidos em Cáceres (a 222 km de Cuiabá), onde vive, Ikeda aposta no engajamento popular como um caminho de resistência. Ao lado de professores, pequenos agricultores e crianças, ela participa do plantio de mudas nativas e ações de educação ambiental.

 “A maioria das pessoas desse planeta não quer degradar. Quando a gente vai plantar com crianças e agricultores, é possível ver no rosto das pessoas o quanto cuidar da natureza é um ato de esperança”, afirmou.

Segundo Ikeda, os efeitos da vegetação nativa vão além da paisagem, pois são decisivos na sobrevivência humana, diante do colapso climático que está por vir. “Os estudos indicam que, no futuro, lugares onde houver árvores vão determinar se as pessoas vão sobreviver ou não. Um lugar totalmente desmatado, com aumento da temperatura, não oferece conforto térmico nem saúde”, conclui.

FONTE: RDNEWS

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